Por: Cláudio Magnavita*

Coluna Magnavita | Sem fusão não há solução

John Rodgerson | Foto: Reprodução/Linkedin John Rodgerson

A experiência e conhecimento de John Rodgerson das idiossincrasias brasileiras garantem o sucesso do casamento Azul e Gol

O Governo Lula finalmente aprendeu que a aviação comercial é o transporte principal de um país de dimensões continentais como o Brasil, já que é desprovido de outros modais de transporte, ao dar sinal verde para que a fusão da Gol e Azul avançasse.

No Lula 1 e Lula 2, a passividade do Governo Federal foi um calcanhar de  Aquiles, gerando o colapso da Varig após a quebra da VASP e Transbrasil.

A aviação brasileira vive hoje os velhos problemas, agravados por uma pandemia que deixou graves sequelas e pelo Governo Federal que não seguiu a cartilha de socorro às aéreas de outro país continental, os Estados Unidos, nas crises pós 11 de setembro e pós-pandemia. Aqui as empresas aéreas foram abandonadas à sua própria sorte.

O sinal verde dado pelo governo Lula reflete o pensamento inicial que levou no passado o casamento da Varig e Tam, que avançou em um codeshare, mas não decolou pelas resistências da Fundação Rubem Berta de não aceitar o percentual societário que lhe sobrou no casamento.

Neste movimento da Azul/Gol existe um personagem único e que faltou na fusão do passado. Trata-se do executivo John Peter Rodgerson, CEO da Azul, e que terá a mesma função na nova empresa criada. Rodgerson é o mais brasileiro dos americanos que já atuou como executivo no Brasil. Assumiu a presidência em 24 de julho de 2017, após ser Vice?Presidente Financeiro e de Relações com Investidores, responsável pelas áreas de Planejamento e Análise Financeira, Tesouraria e Contabilidade da Companhia. Ele trabalhou com David Neeleman no plano de negócios original da Azul e foi Diretor de Planejamento e Análise Financeira na JetBlue Airways entre 2003 e 2008.  Antes, trabalhou para a IBM Global Services, de 2001 e 2003. É formado em Finanças pela Brigham Young University.

Rodgerson compreendeu a realidade brasileira como poucos e trouxe uma visão de gestão que fez a Azul se manter viva e independente. Conhece profundamente a aviação comercial e sabe como aplicar as fórmulas internacionais de gestão de uma aérea na nossa realidade. Com a fusão, ele escreve uma das páginas mais importantes da sua biografia.

Só John Rodgerson será capaz de administrar duas frotas tão diferentes: a GOL 100% Boeing e a Azul Airbus/Embraer. São dois mundos parelhos que não se conversam, diferente da absorção da frota da Avianca pela Latam e a própria  Azul.

Além de compreender as idiossincrasias do mercado brasileiro, ele criou uma sintonia com algo que as aéreas sempre esquecem: o passageiro. Só o comandante Rolim Amaro pensava tanto no passageiro como Rodgerson pensa. Ele enraizou a Azul em praças esquecidas pela concorrentes, como inaugurar um voo de Salvador a Lençóis, no interior baiano. É o Brasil sendo descoberto e coberto pela gestão da Azul.

No país, todas as aéreas enfrentam um problema com o excesso de judicialização, que criou uma situação única no mundo, uma indústria de indenizações absurdas e instantâneas. Algo que precisa ser resolvido com racionalidade pelas instâncias superiores.

O poder de barganha da Latam com os credores, especialmente os proprietários das aeronaves, foi muito maior no pós-pandemia. Eles não tinham para onde levar suas aeronaves. Hoje o quadro se inverteu. Os lessores possuem fila de espera de empresas aéreas sedentas por aviões. Eles podem jogar duro.

As tarefas para a concretização da fusão após a assinatura do termo de intenções são enormes. A vantagem, neste cenário em que cria a empresa controladora de aviação comercial  mais poderosa do país e com musculatura para se recuperar rapidamente, é o fato do comandante deste voo, John Rodgerson, ser um especialista nesta corrida de obstáculos que terá de enfrentar, em um mundo no qual ele já domina. O Governo Lula, por sua vez, não irá atrapalhar. Sem a fusão haverá o caos, um cenário que atormentou os governos anteriores de Lula.

 

*Diretor de Redação do Correio da Manhã