Uma operação do Governo do Estado do Rio de Janeiro na última semana expôs um esquema que vem preocupando autoridades e consumidores: postos da rede Diamante, supostamente ligados ao grupo Copape, foram lacrados após serem flagrados cometendo o golpe conhecido como "bomba baixa". O esquema é simples, mas eficaz: enquanto o marcador da bomba registra um litro de combustível, o consumidor recebe apenas 0,8 litro. Na prática, quem acredita estar pagando R$ 5 pelo litro, desembolsa, na verdade, R$ 6.
O caso, embora grave, está longe de ser um incidente isolado. Segundo o Instituto Combustível Legal, que investiga crimes no setor, a Copape seria o braço operacional do PCC na distribuição de combustíveis. Essa ligação ganha força com o histórico de Mohamad Hussein Mourad, controlador do grupo, que recentemente teve uma condenação criminal transitada em julgado pelo mesmo tipo de fraude.
MOVIMENTAÇÕES E DENÚNCIAS - Não é apenas nos postos que as ações do grupo chamam a atenção. O Ministério Público de São Paulo também denunciou Mohamad por lavagem de dinheiro e pelo uso de laranjas na gestão de suas empresas. Em meio a essas acusações, outra movimentação levanta suspeitas: a compra da empresa Terrana, anteriormente pertencente ao grupo americano WFS.
Apesar de negar publicamente a aquisição, Mohamad viu duas figuras de confiança assumirem posições-chave na Terrana: Gustavo Oliveira, como presidente; e Iona Patrícia de Lima Andrade, no comando comercial. Enquanto isso, a rede Diamante, cujos postos foram lacrados pela fraude, emergiu como o maior cliente da Terrana, consolidando uma ligação cada vez mais evidente entre as empresas.
COMPLIANCE OU CONVENIÊNCIA? - O capítulo mais delicado dessa história, porém, recai sobre a Petrobras. A Terrana, agora sob o suposto controle do grupo Copape, está em processo de renovação do contrato de interligação de sua base com os dutos da estatal. Diante da mudança no controle acionário, a Petrobras tem a prerrogativa de rescindir o contrato - uma decisão que colocaria em xeque a associação da empresa com um grupo investigado por crimes de fraude, lavagem de dinheiro e possível ligação com o PCC.
A questão é: a área comercial da Petrobras terá coragem de romper o contrato, assumindo o desgaste político e operacional, ou optará por manter a parceria, correndo o risco de comprometer sua já pressionada política de compliance?
Essa é a bomba que está prestes a explodir, não apenas no mercado de combustíveis, mas no colo de uma das maiores empresas do país. Enquanto isso, consumidores e autoridades aguardam respostas - ou pelo menos, a certeza de que estão recebendo o litro de combustível que estão pagando.