Por: Paulo Cézar Caju*

Diniz, Guardiola e o futebol-arte

'Se fosse em um manicômio, diria que estava ficando doido. Aliás, uma boa palavra para descrever suas atitudes', pontua o colunista Paulo Cézar Caju sobre o técnico Fernando Diniz | Foto: Conmebol/Jorge Bispo

Sabe aquela história de luz no fim do túnel? Confesso que sou meio cético com essas coisas, ainda mais se tratando de futebol. Contudo, a final do Mundial me reacendeu a esperança de ver de novo o futebol-arte em primeiro lugar, na frente do resultado em si. Claro que os resultados são importantes, mas vem como consequência! São mais de 25 anos em que o futebol pragmático predomina, sobretudo em solo brasileiro, mas a decisão entre Fluminense e Manchester City tem tudo para ser aquilo que há tempos estamos carentes: toque de bola, futebol coletivo, viradas de jogo, dribles, gols e muita coragem.

Guardadas às proporções, sempre gostei de comparar Fernando Diniz a Guardiola pelo estilo de jogo e sexta os dois estarão frente à frente. Acompanho Guardiola desde quando era o volante clássico do Barcelona, com passes longos precisos, viradas de jogo, treinado por ninguém menos que Johan Cruyff, meu saudoso amigo. Como treinador, mudou o estilo de jogo do Barcelona, Seleção Espanhola, Bayern de Munique e agora do Manchester City. Dá gosto ver seus times jogando e é impressionante como todos assimilam as suas táticas e estratégias. Fernando Diniz segue o mesmo caminho desde os tempos de Audax e hoje colhe os frutos da sua persistência.

Escrevendo tudo isso, me lembrei dos tempos em que Didi comandava os coletivos nas Laranjeiras no campo de terra de batida da Máquina Tricolor com Rivellino, PC, Carlos Alberto Torres, Búfalo Gil, Pintinho, Edinho, Doval e parava o treino inúmeras vezes para corrigir os fundamentos daqueles que corriam por dois, mas não pensavam tanto, como Cafuringa e Toninho Baiano! Kkkkk! A repetição leva à perfeição e ele corrigia também os defeitos de todos do time, fazendo com que os domínios se aprimorassem, os passes ficassem mais precisos e o futebol mais coletivo.

Imagino que Fernando Diniz faça a mesma coisa para que os jogadores atuais estejam tão entrosados. Aliás, quantas vezes criticaram o treinador pelos toques de bola dentro da área? Deu no que deu! Chega à grande final por puro merecimento e, se os talentos do Fluminense estiverem inspirados, não será zebra se superar o Manchester City. Será uma bela final, que vença o melhor e, sobretudo, dê um basta no futebol pragmático!

Pérolas da semana:

Geraldinos, conseguem entender algo?

1 - "Estancada a sangria dos vermelhos do Liverpool, a postura e leitura de jogo foi unilateral, assim como a mudança da rota de destino após a chapada na cara da bola".

2 - "O posicionamento corporal permite a transição ao ponto futuro para tentar encaixar a linha um dando espetada com reformulação tática".

3- "Em uma final com grife, os times têm identidade embutida no modelo de jogo de ideia de posicionamento e, apesar de gostarem de ficar com a bola, devolvem para o adversário quando estão de saco cheio".

*Ex-jogador de futebol. Fez parte da selação do Tricampeonato Mundial no México em 1970. Atuou nos quatro grandes clubes do Rio (Flamengo, Botafogo, Vasco e Fluminense), Corinthians, Grêmio e Olympique de Marseille (França).

 

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