Por: Paulo Cézar Caju*

Não podemos ficar habituados a perder

City atropela Fluminense e fatura título inédito do Mundial de Clubes | Foto:

Em 1950, jogamos de igual para igual com o Uruguai, na decisão do Mundial, perdemos de 2×1 e vivenciamos o maior choro da história do Maracanã. Em 1982, com uma seleção dos sonhos, jogamos de igual para igual com a Itália, levamos de 3×2 e desabamos em lágrimas. Em 1974, o Brasil jogou de igual para igual com a Holanda, perdi um gol feito - até hoje tenho pesadelos com esse lance - e fomos eliminados da Copa. Depois disso, o Brasil curvou-se aos europeus e há anos tomamos pancadas nas principais competições internacionais. E o pior disso é que nos acostumamos a perder.

Antes mesmo de o Flamengo entrar em campo contra o Liverpool, em 2019, muitos torcedores rubro-negros e a própria mídia destacavam o poder de força do time inglês. Ou seja, o time do Mister já estava feliz por ter ido tão longe. Jogou de igual para igual com o River e até mesmo com o Al Hilal. Jogar de igual para igual já está de bom tamanho para o futebol que um dia foi o melhor do mundo.

Enquanto o time inglês voltou para a Inglaterra sem festas e carros de bombeiro esperando no aeroporto, o noticiário da tevê brasileira abriu informando que o Flamengo perdeu jogando de igual para igual. Mas não bastou! Um ao vivo despertou minha atenção. Afinal, chovia muito e pensei em alguma catástrofe, mas era, pasmem, uma repórter, de capa amarela, sozinha, em um lugar ermo, informando que o avião do Flamengo acabara de pousar no Galeão.

Passados alguns anos, a história volta a se repetir. A caminho de uma reunião no Centro, um torcedor com a camisa do Fluminense me para no Metrô e dispara: "PC, o Diniz envolveu o City e fiquei feliz com o desempenho". Fingi que nem ouvi e desci na estação seguinte! Sabe por quê? Mais do que naturalizar uma derrota, estamos naturalizando a humilhação. Estamos comemorando as derrotas em finais e vibrando com os vices. É o absurdo do absurdo!

O Fluminense tomou de quatro do Manchester City na final do Mundial e só vi torcedores contentes, exaltando a atuação dos jogadores. Futebol são 90 minutos e o que eu vi foi um toque de bola bacana do Fluminense por um curto período e um baile do time do Guardiola durante todo o resto. É claro que o time inglês é infinitamente superior, tem um investimento muito mais alto, mas nada justifica essa felicidade dos tricolores. Parece que esqueceram que o futebol brasileiro sempre foi reconhecido mundialmente e ainda somos o país com mais títulos mundiais!

Lembro direitinho em 1971 quando fiquei um mês chateado e sem sair de casa depois que desperdicei uma chance incrível e meu Botafogo perdeu o título para o Fluminense com uma arbitragem polêmica no Maracanã. E olha que, na época, meu currículo já era vitorioso: campeão mundial com a Seleção, bicampeão carioca, tricampeão do Mundialito, bicampeão da Taça Guanabara, campeão da Taça Brasil, campeão das Eliminatórias e por aí vai! Outro momento que lembrei foi o da Copa de 78, quando fui cortado por bater de frente com o presidente da CBD e tive que escutar muitos torcedores dizendo que o Brasil foi o "campeão moral" daquele Mundial.

Se continuarmos com esse pensamento pequeno, tomaremos mais sete da Alemanha, mais três da Holanda e mais não sei quantos anos sem levantar a Taça do Mundo! Precisamos tomar vergonha na cara e aprender com as derrotas ao invés de comemorá-las! O futebol brasileiro precisa contratar um bom psicanalista, deitar-se no divã e rever os seus conceitos.

Por fim, gostaria de externar a minha insatisfação em relação a uma entrevista do Fernando Diniz, ao aproveitar a visibilidade da imprensa mundial para dizer que a vitória seria importante em relação ao preconceito contra os negros, contra a fome e contra a desigualdade! Ele não nos representa!

*Ex-jogador de futebol. Fez parte da seleção do Tricampeonato Mundial no México em 1970. Atuou nos quatro grandes clubes do Rio (Flamengo, Botafogo, Vasco e Fluminense), Corinthians, Grêmio e Olympique de Marseille (França).

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.