Por: Paulo Cézar Caju*

A África e seus jogadores talentosos

Jairzinho, Marius Trésor e Paulo Cézar Caju no Olympique de Marseille, em 1974 | Foto: Divulgação

Uma competição que há anos acompanho e só agora as grandes emissoras de televisão estão dando sua devida atenção: a Copa Africana de Nações. Muito se fala do Liverpool pedir Salah de volta, em meio ao torneio, para tratar de uma lesão do atacante egípcio. Porém, desde quando a Inglaterra admite jogadores africanos em seus times? Indo além, desde quando a Europa, de modo geral, começou a aceitar jogadores estrangeiros em seus times?

O continente africano, de modo geral, teve jogadores talentosos, como o do nosso futebol das décadas de 1950, 1960, 1970 e 1980, principalmente nos guetos e favelas. Aquele famoso "futebol de várzea", em campo de terra batida. A África tinha grandes equipes na minha época, como Argélia, Tunísia, Marrocos, Egito, Mali, Camarões, todas, coincidentemente, colonizadas pela França. Depois, podemos destacar Nigéria, Senegal, Zâmbia, Guiné e Senegal de Mané, atual campeão da Copa, todas da chamada África Negra. Aliás, a presença de negros no futebol europeu vem crescendo e isso vem desde o meu período de jogador. Posso dizer que fui um dos primeiros a desembarcar no futebol francês, em 1974, junto com Marius Trésor e Jairzinho, no Olympique de Marseille. Para ir além, fui um dos primeiros estrangeiros a entrar no futebol francês, pois apenas Espanha, Itália e Portugal admitiam jogadores de outras nacionalidades. Basta lembrarmos alguns brasileiros, como Evaristo de Macedo, Didi, Amarildo, Amaro, Dino Sani, Jair da Costa. Além do argentino Di Stéfano e do húngaro Puskas.

Hoje, as principais competições da Europa têm, em suas grandes equipes, uma infinidade de brasileiros, argentinos e africanos, mostrando que grandes craques não se fabricam apenas na Espanha, Inglaterra, França e Itália e que outros países do mundo também podem proporcionar jogadores de grande qualidade. Com isso, a competitividade das ligas europeias cresce, assim como a miscigenação, com muitos jogadores negros africanos em seus times.

Aliás, grandes craques é o que falta no nosso futebol brasileiro... O nível da Copa São de Futebol Júnior está muito abaixo do esperado! As equipes não estão mais competitivas nas categorias de base e o reflexo pode ser visto no time profissional. Hoje, se aproveitam dois ou três jogadores no máximo, algo muito ruim, se formos pensar que na minha época subiam quase todos. E o maior exemplo disso está na fraca atuação da Seleção Sub 23, no Pré-Olímpico, na Venezuela. Uma vitória magra, de 1 a 0, contra a Bolívia, graças a atuação de Endrick e John Kennedy, as duas jóias de Palmeiras e Fluminense, que, mesmo tendo uma fábrica de talentos na base, foi eliminado na terceira fase da Copinha. O esquema de jogo a base do chutão, sem toque de bola, mostra o como estamos mal na formação de atletas e esquema tático.

E por falar em Fluminense, o Campeonato Carioca está mostrando como as equipes reservas ou de aspirantes são bem fracas. Os grandes sofrendo para vencer os pequenos. Gatito salvou o Botafogo contra o Madureira e o Fluminense quase perde para a Portuguesa. Vasco empatou com o Sampaio Correia, de Saquarema (e não do Maranhão) e Flamengo com o Nova Iguaçu.

Geraldinos, será que conseguimos decifrar os códigos dos analistas de computadores?

Pérolas da Semana

1 - Chamou o adversário para dançar (dar o drible), para dar consistência e adaptabilidade para os alas agudos, que flutuam pelas beiradas, chapando a cara (gomos) da bola, dando volume ofensivo e um estilo diferente de jogar, bem sólido, com atacantes do lado de campo". (que vocabulário imbecil!)

2 - "Referência em inversões e alongar a bola pelos lados, com perfil de zagueiro construtor, típico e tratado como plano A (os artistas ou modelos de hoje, que se acham boleiros, obedecem a um cronograma específico para controle físico e, jogar bola, que é bom, nada), jogando alto e qualificado, dando tapa na cara (gomos) da bola, no corredor por dentro". Sem comentários...

3 - "Linha de 4 para atacar pelas diagonais, atacando o adversário pelos lados, jogando por dentro, fazendo entre eles dois atacantes". (vão ser treinadores, bando de ignorantes!)

4 - "Confortável no 3-5-2 (já expliquei antes), ala direita vira atacante agudo, encostando no falso 9 pelos lados do campo (vou chamar os gandulas), seguindo na construção da identidade tática (não sei qual) referencial".

*Ex-jogador de futebol. Fez parte da seleção do Tricampeonato Mundial no México em 1970. Atuou nos quatro grandes clubes do Rio (Flamengo, Botafogo, Vasco e Fluminense), Corinthians, Grêmio e Olympique de Marseille (França).

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