Por: Ricardo Cravo Albin

O resgate de cães e cavalos na tragédia gaúcha

Cavalo caramelo preso em telhado na enchente é salvo no RS | Foto: Reprodução/TVGlobo

Fiquei muito impressionado com a divulgação mundial do gesto emblemático de um cavalo se equilibrando em cima de um telhado no município de Canoas, um dos mais atingidos na grande Porto Alegre. A foto correu o mundo fixando-se como a memória visual mais emblemática da tragédia das enchentes no estado do Rio Grande do Sul.

A tal ponto o fato repercutiu que cheguei a receber não um, mas quatro pedidos de interlocutores do exterior ( dois dos EUA e dois da Europa) que, sem acreditar na historia, queriam saber se havia possibilidade de fotomontagem, ou seja, manipulação galhofeira da fotografia. E o pior: perguntaram-me como um cavalo manteria as quatros patas, sem se mexer por quatro horas, sobre o telhado da casa submersa sem cair, sem deslocar-se a salvo do seu eixo. Sem sequer fraturar alguma das patas.

Nada respondi, aquela imagem era de fato verdadeira e quase milagrosa: a força que existe nos seres vivos – qualquer um - para sobreviver sempre alcançará limites inimagináveis. Soube há pouco, por um dos que resgataram o cavalo Caramelo, que ele, o próprio animal, teria colaborado para sua salvação. Seu temperamento dócil e tranquilo – de boa paz - salvou-o.
Segundo informações oficiais que me chegaram até hoje (escrevo na segunda, dia 13 de maio) mais de 10 mil animais haviam sido resgatados pelo conjunto policiais civis/ Brigada Militar / Corpo de Bombeiros, fora os resgates pessoais empreendidos pelos donos de bichos, sobretudo cachorros, gatos, bois, cabras e jumentos. Até um conjunto de vinte aranhas e quinze cobras, de um jovem cientista, teria sido salvo das águas com ajuda oficial. Aliás, a operação (hoje celebrada pelo mundo) do resgate do Caramelo mobilizou dezessete pessoas e cinco botes. Três deles chegaram perto do animal, que precisou ser sedado para ser colocado deitado no barco, com seus 450 quilos.

Resultado final do frissom do resgate: foram oferecidas três adoções ao Caramelo, além de copiosas matérias em redes de TV internacionais como a BBC e a CBS, que espalharam a salvação dele (e a tragédia gaúcha) pelos quatro cantos do planeta.

Outro dos mais dramáticos salvamentos de animais terá sido o que ouvi por uma emissora de Porto Alegre, alta noite de ontem. Uma equipe militar tentava retirar de um sobrado semi submerso uma senhora de quase 90 anos. Ela se recusava a abandonar sua casa, caso sua gata de estimação que com ela vivia por 15 anos não fosse salva. A gata havia sido colocada por ela no quarto da empregada cuja chave ela havia perdido na tentativa de se salvar das aguas.

Os bombeiros anunciaram que a retirariam do casarão mesmo à força. E aí os que queriam resgata-la ouviram dela o inesperado “Meus filhos, eu estou com 90 anos e tenho uma única companhia na vida, minha gatinha Suzie, mais que uma filha para mim. Preferia mil vezes ficar aqui e não abandona-la e poder alimenta-la. Entendam que eu ainda posso dizer o que quero para ser feliz.”

Os bombeiros mesmo com riscos adentrariam o sobrado. Quebraram a porta e trouxeram Suzie para sua dona, banhada em lagrimas.

Fui informado de que os animais resgatados são mantidos em abrigos especiais à espera possível de seus donos. Os bichos não procurados serão entregues a adoção de quem quiser tratar deles.