Por: Rodrigo Bethle*

O paradoxo de Mauro Cid e a Lava Jato

O tenente-coronel deixou o Batalhão de Polícia do Exército de Brasília na tarde de sábado, dia 09/set, com uma tornozeleira eletrônica, como a da foto, após delação premiada para a PF.. | Foto: Neiva Motta/Susepe RS

O caso do tenente-coronel do Exército Brasileiro, Mauro Cid, é impressionante. Observem como um único processo consegue reunir todas as aberrações que, durante a Lava Jato, muitos reclamavam.

Vamos aos fatos: o Mauro Cid não tem foro especial, mas foi preso pelo Supremo Tribunal Federal (STF) porque lá tramita investigações do inquérito sobre milícias digitais. Vale destacar que Cid foi preso por suspeita de inserção de dados falsos sobre vacinação de Covid-19 em sistemas do Ministério da Saúde.

Importante relembrar que o inquérito conhecido como “inquérito das milícias digitais” foi instaurado em 2021 por Alexandre Moraes a partir de indícios e provas da existência de uma organização criminosa, de forte atuação digital, que se articularia em núcleos político, de produção, de publicação e de financiamento, com a finalidade de atentar contra a democracia e o Estado de Direito no país.

Cabe aqui um questionamento: o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro disparou algum whatsapp para alguém? Ele tinha algum site ou alguma coisa disparando fake news por aí? A resposta é não!

Então, a pergunta que não quer calar é: o que tem a ver falsificação de carteira de vacinação com milícia digital? Eu, realmente, não sei. Mas ele foi preso por conta disso.

E em mais: ele está denunciado? Mais uma vez, a resposta é não! Mauro Cid ficou numa prisão preventiva porque supostamente ele põe em risco a sociedade.

Aí, eu levanto a seguinte reflexão: em que um sujeito que supostamente falsificou um cartão de vacina põe em risco a sociedade? Também não sei! Mas fato é que ele ficou preso provisoriamente.

Agora, a cereja do bolo. O tenente-coronel deixou o Batalhão de Polícia do Exército de Brasília na tarde de sábado (09/09), após 116 dias preso. Ele colocou uma tornozeleira eletrônica. A liberação ocorre após a homologação de seu acordo de delação premiada com a Polícia Federal (PF). Cid faz delação premiada e é solto no dia seguinte. Ou seja, claramente prenderam o cara para levá-lo a fazer a delação.

Essa prática não é a mesma que foi tão severamente criticada na época da Lava Jato? Não diziam que as pessoas eram presas, que sofriam tortura psicológica, para aceitarem fazer delação? O que foi feito agora com o Mauro Cid não foi igual?

Defendo que regra tem que existir para todo mundo, para quem eu gosto e para quem eu não gosto. Não é possível gritar contra a Lava Jato, ver as coisas acontecerem de maneira até pior e, agora, achar tudo normal.

*Ex-deputado e consultor político

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