Este colunista pede licença para uma homenagem familiar. Nesta terça-feira (12), minha bisavó, Alzira Soriano, avó do meu pai, José Lago, tornou-se personagem da novela Amor Perfeito, da TV Globo. Alzira foi a primeira mulher a ser eleita para um cargo no poder Executivo em toda a América Latina. Foi em 1928, quando se tornou prefeita da cidade de Lajes, no Rio Grande do Norte. Na novela, uma mulher, interpretada por Zezé Polessa, se elege prefeita em Minas Gerais. E convida Alzira Soriano para a sua posse. Minha bisavó foi interpretada pela atriz potiguar Titina Medeiros. Um dia depois, a Câmara deverá votar a malfadada minirreforma eleitoral, que irá comprometer seriamente a obrigatoriedade de cotas femininas pelos partidos. Assim, depois da homenagem, a memória da pioneira do voto feminino foi manchada.

Noventa e cinco anos depois de Alzira Soriano, o Congresso brasileiro continua quase que totalmente masculino. As 77 deputadas federais representam somente 15% do total. E quase todos os presidentes dos partidos políticos brasileiros são homens.

Seguirá a obrigatoriedade de 30% de cota de candidatas mulheres. Mas ficará mais difícil punir os partidos que não cumprirem esse mínimo. Ainda abre brechas para que os recursos que deveriam ser usados nas campanhas femininas acabem usados por homens.

O fotógrafo Lula Marques, da Agência Brasil, voltou a cobrir normalmente a CPMI dos Atos Golpistas na manhã desta terça-feira (12), durante o depoimento da cabo da Polícia Militar, Marcela Pinno, que foi agredida pelos manifestantes no dia 8 de janeiro. Lula Marques tinha sido proibido de entrar na comissão pelo seu presidente, Arthur Maia (União-BA), depois que fotografou a tela do celular do senador Jorge Seif (PL-SC), no dia quem houve uma operação policial contra o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, Jair Renan. Jair Renan foi contratado assessor de Seif em Balneário Camboriú. Instado por Seif, Maia descredenciou Lula Marques.

Dois escritórios de advocacia uniram-se para garantir a Lula Marques o direito de trabalhar. Entraram com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF), e o ministro Luiz Fux concedeu a liminar garantindo ao fotógrafo o acesso à CPMI. Ontem, Maia cedeu.

Maia ainda deu "boas vindas" a Lula. "É a câmera no pescoço, o advogado de um lado e a Constituição do outro", festejou Lula Marques. "Estou muito feliz", disse ele ao Correio Político. "Foi uma vitória da democracia e da liberdade de expressão. É preciso ficar sempre atento"

No início da sessão, Arthur Maia fez elogios ao trabalho dos jornalistas e à liberdade de imprensa. Recebeu Lula Marques de volta, mas não deu maiores explicações sobre por que antes havia proibido o seu trabalho. Jorge Seif, porém, insistiu em entrar com processo.

Sobre a tradução da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para a língua Kaiapó, que foi lançada ontem em solenidade no STF, ela foi feita pela bacharel em Direito Maial Kaiapó, e revisada por outros indígenas dos institutos Raoni e Kabu.