Por: Rudolfo Lago

Correio Político | Por que Pacheco abandonou o figurino de político mineiro?

Pacheco sofre pressão na briga entre poderes | Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

Chama a atenção o comportamento do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O figurino tradicional de político mineiro, conciliador e distante de polêmicas parece ter sido abandonado. Na disputa entre os poderes que se instalou, Pacheco resolveu assumir o posto de comandante. Brigando não apenas com o Supremo Tribunal Federal (STF), mas também com a Câmara. O que terá acontecido? "Pacheco parece ter assumido a hashtag chateado", brinca o analista político e advogado na Suprema Corte Melillo Dinis. "Aparentemente, há uma série de fatores que estão pressionando Pacheco a se posicionar de uma forma mais aguda nessa disputa", considera Melillo. "Ele acabaria perdendo espaço dentro do Senado e com seus eleitores", considera.

 

Discurso

Pacheco vinha sendo pressionado internamente a cumprir o que dissera em seu discurso de campanha. Pacheco prometera um Senado "sem revanchismos", mas capaz de se impor. "Um Senado que se subjuga é um Senado covarde. Não permitiremos", disse ele.

#chateado

Tal pressão se somou aos fatores que levavam à tal "hashtag chateado". Além das questões que envolvem o STF, os senadores estão incomodados com a forma como a Câmara entrega sem prazo os projetos para análise. E com a lentidão do Executivo na liberação de emendas.

Minirreforma eleitoral foi retaliação ao Desenrola

Adiamento da minirreforma foi troco em Arthur Lira | Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Assim, a decisão de não colocar em votação a minirreforma eleitoral teria sido uma retaliação ao fato de a Câmara ter entregue somente aos 45 minutos do segundo tempo o projeto que cria o Programa Desenrola. O Senado teve que fazer uma sessão na segunda-feira (2) para conseguir aprovar o Desenrola no último dia, caso contrário a MP caducaria e o programa perderia a validade. No caso da minirreforma, era a Câmara quem tinha sinalizado pressa para que as novas regras eleitorais valessem para as eleições do ano que vem. O Senado, então, deu o troco. Não votou a minirreforma e derrubou para 2024 as regras.

 

Emendas

A questão das emendas orçamentárias é outro ponto de pressão. Geralmente, é o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quem é mais identificado com a questão, mas os senadores também têm interesse na liberação das emendas. E reclamam do ritmo.

Isolado

Se Pacheco não assumisse uma posição mais incisiva, corria o risco de ficar isolado. Sua reeleição já não foi tão simples quanto a de Lira na Câmara, que venceu com larga vantagem. Pacheco foi eleito com 49 votos. Seu adversário, Rogério Marinho (PL-RN), teve 32 votos.

STF

Apesar da pressão do Senado, Melillo, como advogado na Corte, não acredita que irá gerar uma intimidação do STF. "Ali, a agenda se impõe pela posição de cada ministro. Normalmente, o STF é formado por 11 ilhas que só de vez em quando formam um arquipélago"

Eleitores

Pacheco também pode estar sofrendo uma pressão externa. Seus eleitores em Minas Gerais são conservadores. E podem pressioná-lo a se posicionar contra as decisões do STF em julgamento de temas como o uso de maconha, o aborto e a questão das terras indígenas.

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