Por: Rudolfo Lago

Correio Político | Déficit zero ou jogo combinado?

Lula e Haddad: desentendimento ou tudo combinado? Bastidores da economia. | Foto: Agência Brasil

Se déficit zero significa uma balança completamente equilibrada, com o peso das despesas exatamente igual ao peso da arrecadação, nada mais desequilibrado do que o debate a respeito disso, às vésperas da votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) na Comissão Mista de Orçamento (CMO). Os atores envolvidos iniciaram a semana repetindo exatamente o mesmo discurso. De um lado, articula-se na CMO que alguém apresente uma emenda alterando a meta fiscal para déficit de 0,5%. Do outro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, continua defendendo o déficit zero, e os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), saíram de uma reunião dizendo que esse zero segue sendo o compromisso firmado com o Congresso.

 

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Lula e Haddad: desentendimento ou tudo combinado? Bastidores da economia. | Foto: Agência Brasil

Emenda

Na Comissão de Orçamento, a expectativa segue sendo de que alguém - provavelmente da base governista - apresentará uma emenda revendo a meta fiscal. A partir da emenda, então, o relator, deputado Danilo Forte (União-CE), fará a modificação admitindo o déficit.

Governo

A expectativa, então, é sobre como se comportará o governo. Depois da fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se descomprometendo do déficit zero, Haddad vai fazer dele um cavalo de batalha caso haja a emenda? Brigará por ela? Na CMO, aposta-se que não.

Governo cede na negociação e ninguém se compromete

Provável caminho: CMO muda meta e governo cede | Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

A aposta é que ao longo dos dez dias de tramitação da LDO, a discussão sobre a nova meta irá amadurecer e o governo cederá na negociação. Haddad, então, poderá dizer que aceitou a revisão da meta dentro do esforço de diálogo com o Congresso. O governo passa a ter um pouco mais de lastro para fazer investimentos. E o Congresso também para que seja feito o pagamento no ano que vem das emendas orçamentárias dos deputados e senadores. Tidas como fundamentais, em um ano em que todos estarão empenhados em eleger prefeitos nas eleições municipais. E precisam de verbas e obras para alavancar seus candidatos.

Engessamento

A possiblidade de apadrinhar obras e investimentos nas cidades é o grande trunfo dos governistas para a disputa do ano que vem. Mas, para que isso aconteça, é importante que não tenham o orçamento tão engessado pelo compromisso de gastar só o que arrecadar.

Oposição

Do contrário, observa o cientista político Benedito Tadeu Cesar, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, podem crescer as possibilidades da oposição. Especialmente do PL, o partido que irá dispor da maior quantidade de recursos dos fundos eleitoral e partidário.

3 mil

Inicialmente, o PL falava em eleger no ano que vem mil prefeitos. Hoje, o partido comandado por Valdemar Costa Neto, governa 349 cidades. Agora, o PL já fala, em seus planos mais ambiciosos, da possibilidade de chegar a 3 mil prefeitos eleitos em 2024.

É possível

Para Benedito Tadeu Cesar, embora ambiciosa, a meta não é impossível, dada a quantidade de dinheiro que o PL terá. A depender também da força de seu principal cabo eleitoral, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Para reverter, o governo precisará ter condições de investir.

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