Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | A salada ideológica em torno do "imposto chinês"

Collor é que abriu o mercado para importados | Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O Brasil é um país curioso. Nem sempre fica clara por aqui a divisão entre esquerda e direita, especialmente nos temas econômicos. O governo Jair Bolsonaro reunia entre seus aliados ao mesmo tempo ultraliberais como o ex-ministro da Economia Paulo Guedes e ultranacionalistas, como os militares que governaram o país numa ditadura de mais de vinte anos. Se hoje os brasileiros "bugigangas", como classificou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, produzidas na China por um valor barato, isso é consequência de um processo que se iniciou no governo Fernando Collor, que depois foi aliado de Bolsonaro, para acabar com políticas de proteção da indústria nacional que foram implementadas pelos governantes no regime militar.

 

Sarney

No primeiro governo democrático após a ditadura, o então presidente José Sarney manteve boa parte da política protecionista. O curioso é que a esquerda apoiava essa proteção que depois Collor extinguiria com o apoio da direita e dos economistas liberais.

Avanços

No início da revolução informática, os críticos do protecionismo argumentavam que a política estava condenando o Brasil ao atraso, ao impedir a entrada dos computadores e outros produtos eletrônicos mais modernos. Collor chamava os carros brasileiros de "carroças".

Brinquedos, têxteis. Brasil sofreu com concorrência

O PT de Lula apoiava o protecionismo de Sarney | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Se a abertura permitiu a chegada ao Brasil de computadores, celulares, novas marcas de automóveis, etc, por outro lado condenou algumas indústrias brasileiras. No campo da informática, as iniciativas que havia no país desapareceram. Mas a abertura dos importados acabou sendo mais ampla. E, então, diversos setores sofreram. As fábricas de brinquedos brasileiras desapareceram. E outros setores começaram a sofrer com a concorrência de estrangeiros bem mais baratos. Sofreu com isso o setor calçadista. E a indústria têxtil. O problema é que o custo dos importados às vezes é mais baixo pelas condições de trabalho.

Esquerda

Quando a discussão dessa abertura à importação começou, a esquerda aliou-se aos ultranacionalistas procurando proteger os empregos brasileiros. No caso, especialmente o PT, de origem sindical. Agora, o partido é favorável à isenção de impostos para essas importações.

Direita

E, então, a direita e o centro liberais, que produziram essa abertura no passado, agora apoiam o "jabuti" incluído no projeto de mobilidade verde que estabelece o aumento do imposto para as importações até US$ 50, a compra das "blusinhas" e "bugigangas".

Jabuti

No fundo, o problema com essa questão é o mesmo de sempre. A falta de uma discussão mais ampla com relação a mudanças. Altera-se a economia conforme os ventos eleitorais. É absurdo que uma questão como essa entre no debate a partir de um "jabuti".

Explicando

No jargão político, "jabuti" é algo que se acrescenta a um projeto que nada tem a ver com seu objetivo inicial. Vem do ditado que diz: "Jabuti não sobe em árvore. Se está ali, ou foi enchente ou mão de gente". De qualquer modo, é engraçada a confusão política em torno do tema.