Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Berzoini: alterar a correlação de forças será difícil

"É preciso pé no chão" com chances do PT, diz Berzoini | Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

No início do ano, a estratégia estabelecida pelo PT para as eleições municipais visava, para além de eleger o maior número possível de prefeitos, começar a alterar uma correlação de forças que lhe é desfavorável. Isso significa tentar eleger uma quantidade maior de vereadores. Nessa linha, o partido estabeleceu, por exemplo, ter uma quota de candidaturas LGBTQIA . É um caminho para, devagar, alterar esse perfil mais conservador do Parlamento, que faz com que o partido, a esquerda e, enfim, o governo Luiz Inácio Lula da Silva, venha perdendo todas as disputas no Congresso que envolvem pautas de costumes. Experiente quadro político do PT, o ex-ministro Ricardo Berzoini disse ao Correio Político: "É possível, mas é difícil".

 

Ministro

Hoje afastado do comando do PT, Berzoini foi várias vezes ministro nos governos anteriores: Trabalho, Comunicações, Previdência, Relações Institucionais. Presidiu o PT. Para ele, será possível ao PT "melhorar um pouco" a situação. "Mudar radicalmente, no entanto, não".

2020

O ex-ministro aponta que 2020 "foi um ano muito ruim para o PT". Antes, Dilma Rousseff sofreu impeachment. Lula foi condenado e preso. Colou-se no partido a pecha de corrupção. O desempenho naquelas eleições municipais foi, por tudo isso, o pior desde 2002.

'Não dá para imaginar explosão de vitórias'

Projetar vitória de Lula para agora é tarefa difícil | Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

A vitória de Lula em 2022 foi o início de uma recuperação. O partido conseguiu fazer quatro governadores, mas todos no Nordeste. Projetar isso para um grande desempenho em outubro seria pouco realista. "Não dá para imaginar uma explosão de vitórias", diz Berzoini. "Dá para crescer, mas não será nada extraordinário". Para o ex-ministro, será preciso "manter o pé no chão". E, daí, conseguir avançar para aumentar a presença em 2026 é caminho árduo. Berzoini avalia que isso passa muito por uma recomposição de forças sociais, na formação de bases e numa renovação nas lideranças do partido, que ficou "envelhecido".

Igrejas

Nas bases, por exemplo, o PT viu espaços que dominava serem conquistados pelo trabalho das igrejas neopentecostais. "Sem qualquer juízo de valor, essas igrejas fazem um trabalho importante especialmente no campo assistencial dessas populações mais carentes".

Militância

Ao contrário da oposição que enfrentava nos governos anteriores, o PT e Lula viram agora crescer uma militância forte contrária. Antes, era praticamente só o próprio PT quem conseguia levar pessoas às ruas. E essa nova militância demonstra muito maior capacidade digital.

Analógico

"As lideranças do PT envelheceram, e hoje o partido é analógico", comenta Berzoini. Poucos sabem lidar com as redes sociais. Menos ainda no padrão que se estabeleceu, de embate agressivo e muitas vezes com forte uso de fake news e desinformação.

Centrão

Nessa linha, observa Berzoini, o Centrão funciona como um "pêndulo", aproximando-se e afastando-se conforme sua conveniência. No caso específico das eleições municipais, o pêndulo está distante. Na maioria das cidades, está mais próximo dos nomes da direita.