Por: Rudolfo Lago

CORREIO POLÍTICO | Cármen, o TSE, todos nós e o bonde da história

Cármen Lúcia conseguirá coibir fake news? | Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Em seu discurso de posse, a nova presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia, demonstrou sua disposição em combater as fake news nas eleições municipais deste ano. Não se deve duvidar da firmeza e das convicções de Cármen Lúcia. Mas talvez se deva duvidar se ela efetivamente terá ferramentas para tanto. O especialista em marketing digital, presidente do Instituto Brasileiro de Regulamentação da Inteligência Artificial (IRIA), acha que não. "Há uma questão muito mais profunda que somente o uso de fake news; é o uso da inteligência artificial", comenta Senise. "Essa é uma tremenda revolução. Se não ampliarmos essa discussão, se não criarmos logo uma regulamentação, vamos perder o bonde da história".

 

Tecnologia

"Tecnologia se combate com tecnologia", diz Senise. E esse é o primeiro problema. O TSE até está trabalhando um gabinete especial de tecnologia. Mas, pela complexidade, o especialista não acredita, pelo que conhece, que fique realmente pronto até a eleição de outubro.

Epidemia

"Fake news é uma epidemia mundial, mas que parece ter encontrado terreno fértil no Brasil. Parece aqui ser questão cultural", comenta. Somos o país do Plano Cohen, a falsificação feita por Getúlio Vargas para justificar a ditadura de 1937. Fake news antes dos computadores.

Congresso não está na mesma sintonia

Parlamentares comemoram veto sobre fake news | Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

Para Senise, o maior problema para Cármen Lúcia está na constatação de que o Congresso não está na mesma sintonia no sentido de discutir de forma mais profunda o tema. "A justiça eleitoral tem alguma normatização, mas desatualizada e insuficiente", observa. "Em contrapartida, o Congresso mostra-se leniente. Está considerando o tema como disputa política, como FlaXFlu. E não é. A discussão sobre inteligência artificial e seus usos deveria ser uma política de Estado, pelo que há de revolucionário e transformador no seu uso". Senise compara com a revolução que houve na medicina depois que clonaram a ovelha Dolly.

Evolução

Com os limites estabelecidos, a medicina passou a lidar com os avanços da engenharia genética. Hoje se faz o mapeamento do genoma humano. E a medicina evoluiu imensamente. Medicamentos, tratamentos e até mesmo vacinas hoje usam engenharia genética.

Humano

Mas poderia ter evoluído para produzir um ser humano artificial. E, agora, é a Inteligência Artificial que traz esse risco. É possível colocar pessoas dizendo o que nunca disseram. Defendendo o que nunca lhes passou pela cabeça. No mundo da política, é um imenso perigo.

Desmandos

Sem uma regulamentação clara, adverte Senise, cresce o risco de decisões equivocadas. De desmandos. Ele pergunta: "Uma charge de jornal, por exemplo, pode ser considerada fake news? Quais são os limites diante da nova tecnologia? Esse é um tema mal discutido".

Estilo

De qualquer modo, Senise confia que, com seu estilo mais moderado, Cármen Lúcia possa vir a construir acordos mais efetivos entre os grupos políticos que possibilitem algum controle. Resolver, porém, demandaria uma discussão mais profunda e complexa.