Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | O bate-cabeça é a tragédia do governo Lula 3

Quem falou em cortes foram Haddad e Tebet | Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

Esta semana, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), no seu perfil no X (o antigo Twitter), criticou editorais de jornais que defendiam cortes nas despesas do governo diante da devolução da MP do PIS/Cofins. No texto, ela criticava apoio a cortes nas áreas de saúde e educação. Sem entrar no mérito das razões de Gleisi, é preciso lembrar que cortar gastos na saúde e educação ficou esta semana longe de ser somente mera cogitação de editoriais de alguns jornais. Justa ou não, essa possibilidade foi posta na mesa pelos dois ministros principais da área econômica do governo que é comandado pelo partido que Gleisi preside: Fernando Haddad, que é do mesmo PT que Gleisi, e Simone Tebet, do Planejamento, do MDB.

 

Gastos

Embora todos tenham visto a entrevista, para não ficar nenhuma dúvida de interpretação, vamos à reprodução da frase de Haddad, segundo a Agência Brasil, oficial do governo: "Quanto mais esses três gastos estiverem caindo, melhor para o país", frisou Haddad.

Primários

Os três gastos citados por Haddad, são os primários, os financeiros (com recursos da dívida e do Banco Central) e os tributários (isenções, benefícios fiscais). Bem, os gastos primários são justamente aqueles que incluem despesas com saúde, educação, infraestrutura, etc.

Paulada em Haddad vem de seu próprio partido

O ataque muitas vezes vem do próprio PT | Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Houve um tempo em que o PT orgulhava-se do seguinte: "Quebramos o pau internamente, mas depois de fechada uma posição, disciplinadamente todo o partido segue". Já não é mais possível se dizer isso a respeito do partido e do governo Lula 3. Em boa parte das vezes, hoje aparentemente várias questões não são discutidas internamente. E em outras o partido parece achar natural ir em direção oposta à do próprio governo que apoia e do qual faz parte. O drama fica ainda mais complicado quando se percebe que tal unidade não existe sequer dentro do próprio governo. No caso da agenda econômica, esse é um ponto claro.

Previdência

No primeiro governo Lula, essa questão da unidade partidária foi testada na reforma da Previdência. O governo resolveu fazê-la. O partido fechou questão. E quem foi contra a reforma teve de deixar o PT, como a ex-senadora Heloisa Helena (AL). Foi aí que se fundou o Psol.

Desgaste

O problema desse debate externo tornado público quanto a por onde ir é que ele desgasta o governo. E gera um bate-cabeça, dessintonia, uma vez que o próprio governo vê-se órfão de um apoio mais claro da sua base, que já é clara minoria dentro do Congresso.

Tutela

Um observador experiente da cena política avalia que a tutela do governo à direita, que já estava clara na agenda de costumes, está avançando para a economia. Certamente isolar Haddad ou querer colocá-lo no campo oposto não irá ajudar a eliminar esse risco.

Fim do Mundo

Ele comentava que o próprio líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), chamou a MP pelo apelido da oposição: "MP do Fim do Mundo". Com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, tramaria contra Haddad, no que esse observador chama de "República do Acarajé".