Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Denúncia grave ou estratégia de advogado? Eis a questão…

Apurar uma denúncia ou ajudar defesa? | Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

Ao longo da reunião de mais de uma hora que as advogadas do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tiveram no Palácio do Planalto, um fato chama a atenção. Juliana Bierrenbach e Luciana Pires fazem uma grave acusação de que existiria dentro da Receita Federal uma quadrilha que reuniria de forma irregular informações protegidas por sigilo fiscal para prejudicar pessoas politicamente ou para fazer achaque. O problema após a leitura das 48 páginas da transcrição do áudio da reunião é que não fica claro o que as advogadas queriam. Elas levavam uma grave denúncia para ser apurada ou queriam só ajuda do governo para conseguir anular provas contra seu cliente? Provas que só obteriam porque Flávio era filho do presidente?

 

Criminosa

Juliana diz na reunião que haveria dentro da Receita Federal uma "organização criminosa" que agiria com o propósito de destruir "desafetos e inimigos" que eles elegeram "por razões políticas ou por questões financeiras". Por que tal denúncia não produziu efeitos?

GSI e Abin

Poderiam o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) investigarem a tal quadrilha e deslindarem o esquema. Mas depois as advogadas parecem apenas interessadas em obter um meio de anular as provas contra Flávio.

"Eu não tenho a prova. A gente quer essa prova"

O que Ramagem e Heleno fizeram com a denúncia? | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Juliana e Luciana dizem na reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro, com seu ministro do GSI, Augusto Heleno, e com seu chefe da Abin, Alexandre Ramagem, que o Relatório de Inteligência Financeira (RIF) contra Flávio Bolsonaro teria sido irregular, inserido nas investigações da Operação Furna da Onça para prejudicar o filho do presidente. Extremamente grave. Mas elas não parecem dispostas a fazer uma denúncia. "Se a gente conseguir provar (…), a gente consegue a nulidade (…)", diz Juliana Bierrenbach. E completa em seguida: "Eu não tenho uma prova de que isso foi feito com o Flávio". E conclui: "A gente quer essa prova".

Robusto

Em determinado momento, Ramagem chega a dizer a respeito do relato das duas advogadas. "Isso é bastante robusto". E completa que "qualquer que seja um ministro do STF [Supremo Tribunal Federal], ele vai abraçar essa causa". Mas a advogada trava.

Temerário

"Desculpa, desculpa", diz Luciana Pires. "Flávio me falou para eu não fazer isso, porque ele acha temerário". Então, era possível se iniciar uma investigação para apurar a existência da tal quadrilha. Mas não há informação de que tenha sido feito.

Clique

Na conversa, as advogadas sugerem que seria possível identificar se os dados fiscais de Flávio teriam sido acessados de forma irregular ou não. "Com um clique, você consegue saber se um funcionário da Receita [inaudível] esses acessos lá".

Busílis

Como se dizia antigamente: "Eis o busílis". As advogadas tiveram acesso a autoridades às quais só chegariam porque o cliente era filho do presidente. Fizeram uma grave denúncia. E o que aconteceu depois? Houve o clique? O que se descobriu, então?