Na entrevista que concedeu esta semana à Folha de S. Paulo e ao site UOL, o pré-candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSDB, José Luiz Datena, repetiu mais de uma vez que "não é político". Na quinta-feira (17), passeando pelo mercado municipal, repetiu outras tantas vezes o mesmo bordão. Datena, naturalmente, quer lucrar com certo desencanto que boa parcela do eleitorado tem quanto à atividade política. Mas, quanto a ser ou não político, Datena nada tem de diferente dos demais. Se está filiado a um partido e disputa uma eleição, evidentemente é político. Mesmo que outra vez desista da disputa, como já fez um monte de vezes. Porque esse ato de entrar na disputa e sair antes do final repetidas vezes é uma atitude política.

Na avaliação que faz do cenário agora, o apresentador de TV mostra inclusive que aperfeiçoou bem sua leitura política. Tanto que pode acabar virando o fiel da balança na acirrada disputa entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado Guilherme Boulos (Psol).

De acordo com a última pesquisa do Datafolha, Datena está em terceiro, com 11%. Atrás de Nunes e Boulos, que se engalfinham na frente. O prefeito com 24% das intenções de voto, e o deputado com 23%. Haverá segundo turno, num resultado imprevisível.

Apresentador de TV na linha de que é preciso endurecer com bandido, Datena tem um claro perfil conservador. Em tese, portanto, seu apoio no segundo turno deveria migrar para Nunes. Mas, na entrevista, ele fecha completamente esse caminho. Diz que Ricardo Nunes é "o pior prefeito da história de São Paulo". Bate ainda em seu principal aliado, o ex-presidente Jair Bolsonaro, dizendo que ouviu dele "muitas bobagens". E acena para o lado oposto, dizendo que Luiz Inácio Lula da Silva fez "governos melhores que Bolsonaro". Datena não crava se desta vez leva sua campanha até o fim. Mas parece escolher um lado caso se veja fora.

Antes de sair candidato, Datena seria o vice na chapa de Tábata Amaral (PSB). E é ainda em torno de Tábata que alguns no PSDB cogitam uma desistência de Datena agora. Não parece agora provável que tal apoio impulsionasse Tábata para o topo da disputa.

Então, o aceno já projetaria os apoios no segundo turno. Do partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, Tábata certamente não apoiaria Ricardo Nunes no segundo turno. Assim, uma dobradinha com Datena unindo apoios poderia virar o cenário em São Paulo.

De um modo geral, mesmo quando Boulos liderava as pesquisas, os analistas apontavam que suas chances diminuíam no segundo turno, por uma união dos votos conservadores contra ele. Um dado que pode mudar diante desses acenos de Datena para outras vias.

Datena tenta se identificar com aqueles que acham que não gostam ou não fazem política, embora tais pessoas não existam. Elas, porém, tem perfil ideológico imprevisível. E podem seguir Datena nesse seu caminho um tanto quanto errático em torno da disputa.