Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Lula: ressaca após fala sobre Venezuela

Lula: o "nada de anormal" ofuscou todo o resto | Foto: Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil

Havia no Palácio do Planalto um clima de ressaca depois da fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a Venezuela na entrevista à TV Centro América, de Cuiabá (MS), na qual ele disse que "nada de anormal" por lá acontecia. A avaliação é de que o termo, para lá de infeliz, ofuscou o principal no posicionamento do governo, que era cobrar a divulgação das atas das seções eleitorais e adotar uma posição de cautela. Depois da nota precipitada do PT, ficou parecendo que Lula a endossava e dava também a eleição venezuelana como ganha por Nicolás Maduro. Passou-se, então, a um esforço para consertar o posicionamento, no sentido de convencer que era semelhante a de países como a Colômbia, e mesmo os Estados Unidos.

 

E agora?

No Palácio, porém, há algum ceticismo. Avalia-se que se as atas mostrassem claramente a vitória de Maduro, sem contestação, elas já teriam sido apresentadas. O que fazer diante de um impasse sobre o resultado de fato da eleição é algo que ainda se discute.

Repercussão

Havia uma avaliação de que essas entrevistas poderiam deixar Lula mais à vontade porque os veículos maiores nacionais seriam mais agressivos com o governo. Mas a verdade é que a repercussão do que o presidente fala é igual. O tamanho é o dele, não do veículo.

Dívida

Romper com a Venezuela, avalia-se, seria um péssimo negócio. O país é estratégico. Primeiro, por ser vizinho de fronteira. Segundo, por ser o maior produtor de petróleo do mundo. E terceiro pelo tamanho da dívida que tem com o Brasil: em torno de R$ 12,5 bilhões.

Entrevistas

Uma reavaliação, no entanto, começa a ser feita pela área de comunicação do governo com relação à preferência que vem sendo dada por entrevistas a veículos regionais de comunicação. Elas não têm neutralizado polêmicas a respeito do que Lula ali declara.

Entrevista foi antes de conversar com Biden

Após conversa com Biden, opção agora pelo silêncio | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Lula deu a entrevista à TV sul-mato-grossense antes da reunião que teve com seu observador na Venezuela, Celso Amorim, e com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Segundo informações, depois dessas duas conversas Lula começou a ficar mais convencido de que o processo nada vinha tendo de "normal". A intenção da fala de Lula teria sido tentar baixar a temperatura da crise no país vizinho pela necessidade de manter as relações diplomáticas. Agora, a recomendação é de silêncio absoluto enquanto não surgirem as tais atas. E talvez mesmo depois, se continuarem persistindo dúvidas sobre a transparência do pleito.

Itamaraty

Ou seja, nem apontar a vitória de Maduro nem cravar que houve fraude. Nessa linha, manifestou-se oficialmente o Itamaraty. Na nota que divulgou disse apenas que aguarda a "publicação dos dados desagregados por mesa de votação". Traduzindo: são as famosas atas.

Auditagem

Antes das eleições, Maduro resolveu criticar o sistema brasileiro, dizendo em um comício que o da Venezuela é que seria auditável. Bem, aqui o que audita o sistema são os boletins das urnas eletrônicas. Lá, essa auditagem é possível a partir das atas de votação.