Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | O que aconteceu este ano não pode virar padrão

Se não for coibida, violência jogará democracia no lixo | Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Às 3h30 da madrugada de sábado, um oficial de Justiça bateu na porta da casa de Carla Maria de Olveira e Souza em São Paulo. Queria saber se era verdadeira a assinatura de seu pai, o médico José Roberto de Souza, em um laudo que o candidato do PRTB à prefeitura, Pablo Marçal, jogava nas redes sociais para acusar seu adversário na disputa, o deputado federal Guilherme Boulos (Psol) do uso de drogas. O laudo era falso, como se verificou depois. A assinatura do médico, que já morreu, estava falsificada. Mas naquela madrugada Carla não tinha conseguido receber o oficial de Justiça. Ela tem esclerose múltipla. Pela manhã, entrou na Justiça contra Marçal pedindo a inelegibilidade do candidato do PRTB. Era o ápice do vale-tudo.

 

Baixo nível

Pablo Marçal rebaixou a política brasileira a um nível nunca visto. Ele não passou para o segundo turno, mas o Judiciário precisará tomar providências. Não poderá permitir, por leniência, que o que aconteceu no pleito de 2024 se torne a partir de agora um padrão.

Porta arrombada

Foi somente depois das eleições de 2018 que a Justiça Eleitoral acordou e se organizou para combater a prática de fake news. Endureceu após isso. Com a criação do Observatório da Violência, somente agora acorda para o fato de esta eleição foi marcada pela violência.

A cadeirada e o soco são o início do tiro e do atentado

Marçal perdeu, mas ditou o tom da eleição | Foto: Reprodução/TV

Dissemos aqui no Correio Político antes. Por infelicidade, a Justiça Eleitoral permitiu que Pablo Marçal ditasse o tom da campanha de São Paulo. E seus adversários aceitaram esse tom, rebaixando também suas campanhas. Como quando José Luíz Datena (PSDB) achou que seria uma boa ideia responder às provocações de Marçal com uma cadeirada. O candidato do PRTB sabia que iria desestabilizá-lo. O laudo falso foi o ápice. No PRTB, havia quem desconfiasse no domingo (6) que Marçal estaria mesmo forçando uma condenação na Justiça Eleitoral. Talvez Marçal nunca tenha mesmo avaliado seriamente a hipótese de virar prefeito.

Negócio

Tenha razão ou não, Tabata Amaral (PSB) acusou Marçal de o tempo todo tentar fazer negócio com sua candidatura. Seja vendendo espaço nas redes sociais, seja sugerindo fazer vídeos de apoio eleitoral em troca de doações para a sua campanha. Projeção, ele conseguiu.

Trampolim

Para outros, a intenção do candidato do PRTB era usar a candidatura como trampolim para uma eventual disputa pelo Palácio do Planalto. Ele mesmo chegou a admitir a hipótese, especialmente caso Luiz Inácio Lula da Silva desistisse da reeleição em 2026.

Divisão

Porque outro dado que fica é a divisão da direita. Não apenas em São Paulo, entre Marçal e o prefeito Ricardo Nunes. Mas também em Belo Horizonte, com a divisão conservadora entre o prefeito Fuad Noman (PSD), Bruno Engler (PL) e Mauro Tramonte (Republicanos).

Esquerda

E o baixo desempenho da esquerda de um modo geral. Exceção para a reeleição de João Campos (PSB) no Recife e os segundos turnos em São Paulo, Fortaleza, Natal e Cuiabá. Lula precisará costurar apoios ao centro, especialmente no PSD e no MDB.