Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Uma direita dividida… e errática

Bolsonaro em comício em Goiânia | Foto: Divulgação

Nos últimos dias antes do primeiro turno no domingo (6), o senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO) começou a receber ligações de pastores evangélicos que antes estavam com ele. "Aqui na minha igreja, já não consigo mais nenhum voto para você", era o recado que recebia. Vanderlan, que aparecia competitivo em todas as pesquisas para a prefeitura de Goiânia, acabou no final amargando o quinto lugar na disputa. Seus votos correram todos para Fred Ferreira, o candidato do PL. E isso aconteceu especialmente depois que desembarcaram na capital de Goiás o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua mulher, Michelle. Goiânia é um exemplo do peso que teve o apoio de Bolsonaro. O problema é que esse apoio foi muitas vezes errático.

 

Divisão

E isso pode ser um dos pontos que levou a um acirramento da divisão da direita. Em diversas cidades, a subida de candidatos da direita aconteceu com prejuízo de outros nomes da própria direita. Uma divisão que se explicitou especialmente a partir de São Paulo.

Malafaia

Na entrevista que deu à colunista Mõnica Bergamo, na Folha de S. Paulo, o pastor Silas Malafaia não poupou críticas pesadas a Bolsonaro. Acusou-o de omisso por não ter dado apoio mais explícito ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo, aprofundando a divisão.

Valdemar chegou a ventilar jogar a toalha no PL

Valdemar reclama da dificuldade de combinar o jogo | Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil

A falta de uma estratégia mais combinada da participação de Bolsonaro ou não nas campanhas gerou tal estresse que na última semana antes da eleição, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, chegou a declarar que cogitava passar o comando do partido para o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Depois, ele mesmo deu declaração no sentido contrário. Duas interpretações surgiram. A primeira é que teria sido um desabafo. A segunda é que teria sido um balão de ensaio. Valdemar é o dono do PL há 24 anos, desde a morte de Alvaro Valle. Não abriria mão disso. Valdemar já reclamara como é difícil combinar as coisas com Bolsonaro.

Caiado

No caso de Goiânia, a intenção de Bolsonaro parecia clara: evitar uma vitória do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), na sua casa. Caiado é um dos nomes que ambiciona ocupar o espaço da direita na ausência de Bolsonaro, que está inelegível.

São Paulo

Mas em São Paulo, por que Bolsonaro se omitiu, como reclama Malafaia? Terá Bolsonaro medo da sombra também do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)? Será que ele pretendia desestimular também seu crescimento como opção à direita?

Bolsonaro

No campo da direita, a avaliação que se faz é que Bolsonaro teme perder o comando do processo político à direita fora do jogo, por estar inelegível. Quem ocupar esse espaço pode passar a dar as cartas em seu lugar. Aceitar isso não cabe no seu temperamento.

À revelia

O problema é que isso pode acabar acontecendo à revelia de Bolsonaro, pela própria dinâmica do processo. Nesse sentido, a ascensão de Pablo Marçal (PRTB) em São Paulo foi um sinal de que o risco é mais do que evidente. A omissão, assim, é mau caminho.