Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Nunca foi tão ruim a relação de Lula com o Congresso

Foi a pior avaliação da relação governo/Congresso | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

De tempos em tempos, o site Congresso em Foco realiza uma pesquisa com os principais líderes do Congresso Nacional, deputados e senadores, na qual mede os humores dos parlamentares sobre diversas questões relevantes. Divulgada agora, a última rodada do Painel do Poder, essa pesquisa, traz um dado preocupante: nunca foi tão ruim a relação entre o governo e o parlamento. No caso, a pesquisa pede aos parlamentares que deem uma nota de 1 a 5 para classificar esse relacionamento. A média das respostas dadas pelos 70 deputados e senadores ouvidos foi 2,41. É a menor em todas as pesquisas feitas desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse em janeiro de 2023. Na rodada anterior, essa média tinha sido 2,81.

 

Bolsonaro

O alento para Lula é que essa avaliação era pior durante o governo Jair Bolsonaro, quando essa nota média chegou a ser de apenas 1.99. Mesmo a nota mais alta então foi menor que agora: 2,68. De qualquer modo, pode haver um fim de lua-de-mel de governo e Congresso.

Lua-de-mel

"Lua-de-mel" é o termo utilizado pelo economista e cientista político Ricardo de João Braga, um dos responsáveis pelo Painel do Poder. Ele avalia que o quadro pode representar um certo desgaste na relação, diante das disputas e de eventuais expectativas frustradas.

Quadro não é, porém, estático. E pode melhorar

Eventual ascensão de Brito pode mudar jogo | Foto: Bruno Spada/Câmara dos Depútados

Ricardo de João Braga observa, porém, que o quadro não é estático. E ele mesmo não acredita que venha a representar um novo marco nessa relação Executivo/Legislativo. A pesquisa foi coleta em setembro, antes, portanto, do primeiro turno das eleições municipais. "O quadro é volátil" observa o cientista político. "E já aconteceram coisas, efeito das eleições, que poderão vir a estabelecer uma mudança nessa relação". De um modo geral, tais coisas estão relacionadas à sucessão no Congresso, especialmente na Câmara, onde o quadro tornou-se completamente incerto. O avanço do PSD nas eleições municipais mexeu as peças no tabuleiro.

Lira

Arthur Lira imaginava que iria conduzir seu processo sucessória e que, dessa forma, manteria seu naco de poder depois que deixasse de ser presidente. A aliança PSD/União, ou Antônio Brito/Elmar Nascimento, pode frustrar esses planos de Lira. E melhorar para o governo.

Vice

Mostra dessa nova situação é o fato de PSD e União estarem nos bastidores negociando a vice-presidência da Câmara com o PT. Antes meros espectadores do processo, PT e governo podem vir a ter uma posição decisiva na definição de quem irá suceder a Arthur Lira.

Orçamento

Como o Correio Político mostrou na terça-feira (15), o governo meio que patrocina a trava do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino no chamado orçamento secreto. Ele é a chave do poder de Lira. Sem esse domínio, o governo volta para o jogo.

Arrumação

"Não é provável, portanto, que essa relação piore num futuro próximo", observa Ricardo de João Braga. "Os dados, portanto, não parecem indicar a existência de uma crise nesse relacionamento", considera. "Não são o fim do mundo. Parecem mais um freio de arrumação".