Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Mundo mudou, e PT não viu, diz cientista político

Políticas sociais têm menos impacto | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Em 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva venceu a primeira eleição para presidente, o cientista político gaúcho Benedito Tadeu Cesar lançou seu livro, "PT: a Contemporaneidade Possível". O livro mostra como, naquele momento, o PT reciclava suas ideias originais para se adaptar à realidade e se apresentar, de fato, como alternativa de poder. Com acenos que abrandaram boa parte de suas concepções originais, como a "Carta ao Povo Brasileiro", sinalização de que teria posições mais moderadas na economia. O resultado do PT e da esquerda nas eleições municipais deste ano mostram que pode ser necessário um novo "freio de arrumação", como diz Benedito Tadeu, para, mais uma vez, readequar-se à nova realidade.

 

Consequências

"Ou as consequências daqui a dois anos poderão ser trágicas", alerta o cientista político. Para ele, a esquerda poderá ficar à revelia do desenvolvimento do debate político, incapazes de acompanhar a evolução dos blocos conservadores de centro-direita, que darão as cartas.

Comunicação

Para Benedito Tadeu Cesar, "o mundo mudou, e o PT não viu". A Teologia da Prosperidade, das igrejas evangélicas neopentecostais, aponta que qualquer melhora de vida é fruto do esforço individual, e não das políticas públicas do governo. Vai se ampliando uma desconexão.

Vitória, de fato, foi dos "Partidos de Negócios"

Com emendas, obras vão para a conta do Congresso | Foto: IBL

"Temos hoje o menor índice de desemprego desde que começou a ser medido, mas a maior parte da população desconhece essa informação", comenta o cientista político. "Não se conseguiu desenvolver uma comunicação social eficaz. As realizações do governo são, em grande parte, mal divulgadas". A isso se soma o grande controle orçamentário que o Congresso passou a ter. Hoje, estima Tadeu, 45% do orçamento que não é de vinculação obrigatória está sob o controle do Contrão, que detém cerca de 70% do comando do Congresso. "Não foi exatamente uma vitória do centro", observa. "Foi uma vitória dos 'Partidos de Negócios'".

Resultado

O resultado é que o governo, por um lado, não consegue fazer chegar à população a importância das suas políticas sociais e, por outro, também não tem a assinatura das melhoras de infraestrutura, que ficam nas mãos do Centrão, com suas emendas, obras e recursos.

Arranjo

Um arranjo que não é feito necessariamente com o eleitor, mas com prefeitos e demais políticos. Os recursos chegam às prefeituras, e ajudam a reeleger os prefeitos e vereadores. Que serão os cabos eleitorais dos próximos deputados, senadores, e mesmo do próximo presidente.

Orçamento

Antes, mal ou bem, os governos participavam desses acertos, porque tinham o controle da liberação. Se não estão conectados com quem hoje tem a chave do cofre, e se não se conectam também com os novos anseios da sociedade, acabam ficando em dificuldade.

Discurso

Tadeu alerta para erros na estratégia do discurso identitário. "Quando focamos em pautas comportamentais e de identidade, que são importantes, mas não as mais importantes na visão da maioria das pessoas, corremos o risco de abrir espaço para o conservadorismo".