Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Bolsonaro quer ser a cópia em negativo de Lula

Bolsonaro: espelho ao contrário de Lula? | Foto: Reprodução/vídeo

Em um dos seus romances inaugurais, "As Luzes de Setembro", da sua "Trilogia da Névoa", o escritor catalão de histórias fantásticas Carlos Ruiz Zaffón nos apresenta à figura mitológica do doppelgänger. De origem alemã, o doppelgänger seria um duplo que cada pessoa teria, como uma espécie de negativo. Todas as características desse duplo seriam opostas à da pessoa. Se a pessoa é boa, seu duplo é mau. Se a pessoa é pacífica, seu duplo violento. E a maior tragédia que pode acontecer a alguém é cruzar com seu doppelgänger um dia nas ruas. No mundo da política, é impressionante como o ex-presidente Jair Bolsonaro muito deseja o tempo todo ser uma espécie de doppelgänger do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

 

Espelho

"O candidato sou eu", declarou Bolsonaro à revista Veja, explicitando o que já vinha esboçando. O ex-presidente, então, claramente se espelha no que Lula fez em 2018: condenado, levou sua campanha até o último momento. Somente preso, lançou seu sucessor.

Roteiro igual

Bolsonaro deixa claro que seu roteiro é igual. Condenado, tentará levar sua candidatura até o último momento. Não conseguindo, tentará ele ser o condutor do seu substituto. Seu problema é que ele está longe de ser de fato o reflexo à direita de Lula.

As condições do retorno de Lula são bem diferentes

Bolsonaro tem chance de fazer seu Haddad? | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

As condições que permitiram a Lula reverter a sua condenação e voltar à Presidência em 2022 são muito diferentes das que envolvem Bolsonaro agora. Lula voltou quando ficou claro o conluio do ex-juiz e agora senador Sergio Moro com os procuradores chefiados por Deltan Dallagnol. Pode até haver também um projeto político na condenação de Bolsonaro. Mas é muito difícil se convencer o próprio STF de que agiu politicamente. Então, baixíssima chance de reversão da condenação. Ele poderia, então, tentar o caminho no Congresso. Mas qual será a essa altura o real comando político que Bolsonaro tem do processo?

 

Comando

O comando político é outro ponto no qual Bolsonaro não é um doppelgänger perfeito de Lula. O PT é um partido construído por Lula. Que sempre tolheu a ascensão de qualquer nome à esquerda que lhe fizesse sombra. Pagará o preço quando a idade lhe obrigar a sair.

PL

Bolsonaro não tem comando partidário. Nem mesmo o comando do PL ele tem. Mudou dezenas de vezes de partido ao longo da carreira. Não tem, portanto, a mesma capacidade de fazer com que o jogo político venha a se desenvolver à sua revelia.

Pragmáticos

O campo pragmático da direita, inclusive dentro do próprio PL mais ligado a Valdemar Costa Neto, não está disposto a embarcar em qualquer aventura por mero alinhamento ideológico. A forma como Arthur Lira rifou o projeto de anistia do 8 de janeiro mostra isso.

Férias!

Assim, não parece provável que Bolsonaro consiga replicar agora o que fez Lula antes de 2022. Mas agora isso deixa de fazer por um tempo parte das preocupações deste colunista. A partir desta segunda-feira (4) saio de férias, agradecendo muito o prestígio da leitura!