Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Sem novos arroubos de golpe, direita ainda tem força

Bolsonaro é fenômeno de um ciclo maior que ele | Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

A prisão no sábado (14) do general Braga Netto fez surgir muitas especulações sobre o que isso pode significar para o futuro da política brasileira. A prisão alcança um dos nomes mais próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro e mais fortes no conservadorismo. Sua prisão poderia vir a significar o fim desse atual ciclo da direita brasileira? O economista e cientista político Ricardo de João Braga acha que não. "Não deve haver novos arroubos de golpe. Mas também não parece haver muita dúvida de que o Brasil e o mundo deram passos significativos rumo à direita, a uma forma de pensamento mais conservadora", considera Braga. "Bolsonaro foi um fenômeno desse ciclo da direita. Mas esse ciclo é maior que ele", avalia.

 

Liberais

No mundo, esse ciclo conservador está relacionado, observa Braga, ao desgaste da ideia que prevaleceu desde os anos 80 de ascensão de um liberalismo econômico que, porém, permitiu a ascensão de grupos, como o LGBTQIA , e avanços quanto aos direitos humanos.

Conservadores

"Ascendeu um grupo mais conservador, que rejeita fortemente tais ideias", analisa Ricardo de João Braga. Esse grupo viu em Bolsonaro um nome que galvanizava esses valores. "Mas nada impede que outros venham a assumir esse mesmo discurso".

Prevalência ideológica depende, porém, da oferta

Lula é que construirá suas coalizões | Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Isso, então, significa que o vencedor da próxima eleição presidencial virá desse grupo conservador? Não necessariamente, diz Ricardo de João Braga. "Um fator determinante no processo de escolha é sempre a demanda e a oferta política", analisa. Do ponto de vista ideológico, o crescimento desse pensamento conservador demanda um candidato nessa linha. Mas, nem sempre, é por aí que acontece a oferta de nomes. "O eleitor poderia querer eleger a Madre Teresa de Calcutá. Mas, se ela não é candidata, ele se vê obrigado a votar nos nomes colocados na disputa", compara. O que pode fazer com que a escolha não siga tais extremos.

Lula

Assim, será preciso ver como os candidatos construirão suas chapas. E, nesse sentido, mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele é do PT, um partido de esquerda. Mas a sua construção será a de uma coalizão ampla. Já foi em 2022. E tende a vir a ser ainda mais.

"Cachorrão"

"O PT late, late, mas o cachorrão é o Lula", brinca Ricardo de João Braga. O que o cientista político quer dizer com isso é que, embora o PT muitas vezes procure forçar um caminho mais à esquerda, quem faz essa condução é Lula. É ele quem forma suas coalizões.

Reforma

Os ensaios iniciais deverão vir com uma reforma ministerial já no início de 2025. O próprio Lula já sinalizou para essa mudança. Ela acontecerá na comunicação do governo, mas irá se ampliar para outros setores, como a articulação política. Lula sacrificará nomes do PT.

Centrão

A expectativa é que a reforma abrigue mais nomes do Centrão. Com dois objetivos. Primeiro, com isso Lula espera ter menos dores de cabeça na relação com o Congresso Nacional. Mas, a partir daí, começa a construir a aliança que estará com ele na reeleição em 2026.