Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | 34 anos de escândalo na mesma Bahia

Campo Formoso: onde o asfalto se solta e derrete | Foto: Prefeitura de Campo Formoso

Em Campo Formoso, o asfalto derrete. Gruda na sola dos sapatos. Solta-se completamente nas margens da rodovia BA-220. A obra custou R$ 45 milhões. É um dos principais pontos apurados na Operação Overclean, que investiga desvio de recursos públicos de emendas orçamentárias, num total que já ultrapassa R$ 1 bilhão. É curioso que seja outra vez a partir da Bahia que se desenrola o novelo de um escândalo orçamentário. Há 34 anos, a primeira ponta descoberta do esquema dos Anões do Orçamento também surgiu na Bahia, na cidade de Serra Dourada. Agora, recursos do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS). Á época, do então Ministério da Ação Social. Nos dois, emendas parlamentares.

 

Anonimato

É impressionante como os dois esquemas se assemelham por ter origem na Bahia e pela precariedade das obras. Mas impressiona também o que eles têm de diferente. João Alves esbanjava o poder que tinha. Agora, os novos autores preferem o anonimato.

Político

Alves ficou milionário com seu esquema de lavar dinheiro com bilhetes de loteria ("Deus me ajudou"). Mas os recibos de propina mostram que as destinações tinham também um caráter político. Totalmente espúrio, mas Alves queria ter seu poder exposto aos eleitores.

Assassinato

Na década de 90, foi preciso haver um assassinato, de Ana Elizabeth Lofrano, para que todo o esquema viesse à tona. Espera-se que nada parecido venha a acontecer agora. Mas já corre nos corredores do Congresso que investigação da PF já alcança mais de 30 parlamentares.

João Alves criou à época a propina com recibo

Serra Dourada: onde começou o escândalo há 34 anos | Foto: Prefeitura de Serra Dourada

Se hoje o asfalto de R$ 45 milhões derrete-se e solta-se na rodovia baiana, na época boa parte das casas da milionária Vila João Alves estava inacabada. Sem encanamento. Sem portas ou janelas. Muitas delas nem teto tinham. Ao constatar o resultado final do que era a maior destinação para município de recursos do Ministério da Ação Social, Denise foi em busca de vereadores e prefeitos. E voltou de Serra Dourada com as cópias de recibos, nos quais vereadores da cidade tinham assinado, de forma impressionante: "Pagamento que me é feito em troca do apoio ao deputado João Alves". O recibo estampou a primeira página do jornal.

João Alves

Em 1990, reportagem no jornal O Globo, de Denise Rothenburg e deste que hoje aqui escreve, mostrava como milionárias verbas públicas desviam-se em Serra Dourada. Tinham sido destinadas a um conjunto residencial, batizado com o nome de "Vila João Alves".

 

Naco

Era uma inusitada homenagem ao responsável pela destinação milionária. Naquele ano, João Alves, o relator do orçamento, teve o poder de sozinho, destinar mais de 30% dos recursos do Ministério da Ação Social. E Serra Dourada ganhou o maior naco da verba.

Secreto

Agora, os parlamentares querem fazer questão de manter a destinação secreta. Não há propaganda do que é destinado, ou ela é mínima. O acerto é feito na surdina, com prefeitos locais. Os resultados das últimas eleições mostram que funciona. Mas o eleitor é parte menor disso.