Costuma ser como um jogo preliminar. Na grande maioria das vezes, a eleição municipal antecipa os humores do eleitor brasileiro para a eleição nacional seguinte. O PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva até conseguiu ampliar o número de prefeituras que governa a partir desta quarta-feira (1): 248 contra 182 em 2020. Mas seria uma ilusão basear o desempenho somente nisso. De um modo geral, os partidos de esquerda tiveram o pior desempenho eleitoral dos últimos 20 anos, como aponta levantamento feito pelo site Congresso em Foco. PT, PSB, PDT, PCdoB, Rede, PV e Psol governarão 749 cidades. Em 2012, no seu melhor resultado, esses partidos elegeram 1.533 prefeitos. Em 2014, Dilma foi reeleita.

Em 2020, o pleito municipal apontava bom desempenho dos partidos que, dois anos depois, seriam decisivos para Lula vencer Jair Bolsonaro no segundo turno. O MDB de Simone Tebet, o PSD de Gilberto Kassab e o PSB de Geraldo Alckmin foram os três primeiros.

Em 2016, o PT perdia mais da metade das suas prefeituras: governaria 256. E via o crescimento de forças que ajudaram sua derrocada. O MDB do então presidente Michel Temer, o PSDB do adversário de Dilma, Aécio Neves, e o PP, do hoje bolsonarista Ciro Nogueira (PI).

Enquanto isso, os partidos de direita ou de centro-direita passaram a governar 4,5 mil municípios do país. Nas capitais, a esquerda só administrará Recife, com João Campos (PSB), e Fortaleza, com Evandro Leitão (PT). É o pior desempenho desde a redemocratização do país, em 1985. Naquele ano, os partidos de esquerda elegeram quatro prefeitos de capitais. Lula pode comemorar que seu principal adversário, o PL, ficou bem abaixo da sua meta de eleger mil prefeitos. Só chegou à metade: 516. Mas foi partido que fez o maior número de votos no total: 19,9 milhões. O que pode vir a beneficiar Lula é a falta de clareza do atual quadro político.

Bolsonaro está inelegível, e ninguém descarta que o final dos inquéritos que responde pode ser com sua prisão. Dentro do PL, já há quem defenda que o partido siga num rumo de maior entendimento e menos radicalismo político. O prefeito de Maceió, JHC, é um deles.

O que 2026 projeta, portanto, parece vir de para onde se inclinará o centro conservador. Juntos, MDB e PSD fizeram quase 36 milhões de votos. No caso do MDB, o que prevalece: as posições de Ricardo Nunes, em São Paulo, ou de igor Normando, novo prefeito de Belém?

Qual Gilberto Kassab presidirá o PSD? O que é secretário-geral do governo de São Paulo, de Tarcísio de Freitas (Republicanos), opção de oposição em 2026? Ou o que tem três ministérios no governo Lula e pode ampliar esse quinhão (Rodrigo Pacheco poderá virar ministro)?

Há quem dentro do próprio PT defenda - o prefeito de Maricá, Washington Quaquá, é um exemplo - que Lula mais e mais precisará se render à realidade de que depende dos apoios conservadores. Sua base de esquerda, calcula-se, não vai hoje muito além de 10%.