Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Os recados do ato do 8 de janeiro

Ato e discurso de Lula passaram diversos recados | Foto: Rudolfo Lago/Correio da Manhã

Nas entrelinhas do ato em memória do 8 de janeiro de 2023, diversos recados puderam ser lidos. Há quem afirme que estavam na Praça dos Três Poderes somente pouco mais de mil pessoas. É possível que o número possa ter sido um pouco maior, mas não muito. Em seu discurso, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma admissão velada de que não havia muitas pessoas. Fica claro que a atual capacidade do PT de arregimentar militantes, no novo tempo das redes sociais, não é mais tão grande quanto já foi no passado. E, para alguns, pode ter havido uma falha na articulação do ato, no sentido de mantê-lo mais partidário, mais um ato do governo Lula, do que uma manifestação institucional dos poderes.

 

Poderes

Uma impressão reforçada pelo fato de não estarem presentes os demais chefes de poderes, para além do próprio Lula, chefe do Executivo. No fundo, os problemas verificados reforçam as falhas do governo na sua comunicação. O ato é, no fundo, estratégia de comunicação.

Marketing

Um observador da área chegou a comentar que o grande problema é que "continuam confundindo marketing eleitoral com comunicação de governo". Assim, a troca de Paulo Pimenta por Sidônio Palmeira talvez não resolva. Sidônio foi o marqueteiro de Lula em 2022.

Interferência de Janja será contida?

Atos se iniciaram com um discurso de Janja | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Ainda no campo da comunicação, chamou a atenção que os atos de quarta no Palácio do Planalto tenham se iniciado com o discurso da esposa de Lula, Janja da Silva. Ela foi a primeira falar, por volta das 9h30, na solenidade de entrega do relógio do século XVII que foi destruído por um vândalo e do vaso de porcelana restaurado após se partir em 180 pedaços. Janja não é uma autoridade da República. Não tem cargo no Executivo ou em qualquer outro poder. Ainda que seja legítimo que ela expresse suas posições políticas, sua presença ali abrindo os atos de quarta passou a ideia de que ela continua tendo forte influência na comunicação.

Disputa

Há uma disputa interna na comunicação do governo. Janja conseguiu o controle das redes sociais. No episódio da cirurgia que Lula fez para drenar uma hemorragia intracraniana, toda e qualquer informação precisava passar pelo seu crivo. Sidônio pediu autonomia. Terá?

Recados

Na parte improvisada do discurso, Lula acabou passando um recado importante aos setores mais radicais de esquerda do PT, os que são mais revolucionários e mais avessos à opção de avanço pela solução democrática. Lula deixou claro que não é seu caminho.

Sem operários

"À frene da Revolução Russa ou da Revolução Cubana, não havia nenhum operário", disse o presidente, referindo-se às vitórias comunistas de 1917 e de 1959. "Só a democracia é tão poderosa para permitir que um torneiro mecânico sem diploma se torne presidente".

Centrão

Na sequência da troca de Pimenta por Sidônio, Lula fará outras mudanças. E o ponto central é como conseguir ampliar seus apoios para o centro. Sendo mais explícito, para o Centrão. E um dos problemas que Lula enfrenta é a resistência a isso no seu próprio partido.