Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Ensaios à esquerda envolvem Camilo Santana

Camilo: opção discreta a Lula em 2026? | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Há uma situação que hoje é ponto de concordância para a maioria dos analistas políticos. Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por alguma razão, não for candidato à reeleição, o quadro da sucessão em 2026 ficará completamente aberto. A inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro tem feito surgirem diversos ensaios de candidatura à direita, hoje fragmentada. Mas o cientista político Isaac Jordão enxerga ensaios semelhantes também à esquerda. Mais discretos, porque ninguém ousa confrontar Lula. Ao Correio Político, Isaac Jordão sugere que, nesse sentido, se preste atenção nos movimentos do ministro da Educação, Camilo Santana. Para o cientista político, Camilo trabalha para se colocar como opção, dentro da disputa interna.

 

Disputa

No caso, essa disputa interna se dá no PT entre os grupos do Sul, especialmente os paulistas, e os nordestinos. De um modo geral, os nordestinos são mais pragmáticos, mais abertos a alianças. E têm obtido resultados melhores que o PT do Sul, especialmente de São Paulo.

Prefeito

No ano passado, Camilo Santana elegeu o único prefeito de capital do PT, Evandro Leitão, em Fortaleza. Sobressaiu-se, assim, junto a outros petistas nordestinos fortes, como o ministro Wellington Dias, no Piauí, ou a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra.

Educação pode ser área mais fácil que Fazenda

Crise do Pix desgastou Fernando Haddad | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

A crise do Pix envolve diretamente o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que saiu desgastado. Na reunião ministerial na segunda-feira (20), Lula acabou puxando indiretamente a orelha de Haddad. Com temas complicados como inflação, taxa de juros, dólar, arcabouço fiscal, novos desgastes podem atrapalhar Haddad. A educação, área de Camilo, pode se tornar seara mais fácil. Jordão observa que o ministro talvez tenha assumido uma das pastas com situação inicial mais precária, pelo desmonte que houve no governo Bolsonaro. Mas tem conseguido avanços. O programa Pé de Meia é, talvez, a entrega mais vistosa do atual governo.

Pé de Meia

O Tribunal de Contas da União (TCU) apontou no ano passado irregularidades com o Pé de Meia, porque repasses teriam sido feitos sem previsão orçamentária. Para Isaac Jordão, não seriam problemas insanáveis. O programa ainda pode virar um bom ativo.

Lula

Claro, Camilo Santana não irá se mexer de forma explícita porque a precedência sempre será de Lula. Mas, no fundo, é uma situação semelhante à que enfrenta a direita. Nomes do campo têm se mexido de forma mais explícita, mas dependem do aval de Jair Bolsonaro.

Bolsonaro

Para Isaac Jordão, Bolsonaro tentará em 2026 usar a mesma estratégia usada por Lula em 2018, quando permaneceu enquanto pôde na disputa só abrindo mão para Fernando Haddad no último momento. "Creio que ele só se define em meados de 2026", acha.

Centro

E o centro, nesse quadro de indefinição, também pode fazer seus próprios ensaios? Isaac Jordão considera mais improvável. "O centro não costuma lançar candidatos", observa. Opta por vender seus apoios. Uma forma, de "ser governo sem ter a responsabilidade".