Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Bravata de Trump faz dólar baixar. Lula agradece

Dólar: a mais de R$ 6 desde anúncio do corte de gastos | Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Passados estes primeiros dias do governo de Donald Trump nos Estados Unidos, uma coisa inusitada acontece. Trump radicaliza, ataca migrantes e estrangeiros, avança no discurso imperialista e de defesa do seu país. Tudo isso deveria - pelo menos esse era o desejo de Trump - fortalecer a sua "América". Mas o contrário ocorreu. O valor do dólar está caindo no mundo. Aqui no Brasil fez um favor enorme ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde o desastrado anúncio das medidas de corte de gastos, o dólar estava acima do desagradável patamar de R$ 6. Ontem, baixou para R$ 5,90. E o responsável por isso é Trump, na diferença que o mercado enxergou entre o discurso radical e a ação prática. Trump não sobretaxou nada.

 

China

Pode até vir a fazer. Mas, na prática, sinalizou em direção contrária quando disse que sobretaxar produtos chineses poderia não acontecer caso se chegasse a uma solução para a manutenção do Tik Tok nos EUA. Como se espera que essa solução surja, taxação não haverá.

Limites

Como disse a secretária-geral do Itamaraty, Maria Laura da Rocha, Trump "pode falar o que quiser". O que vale mesmo é o que venha a fazer. E, nesse ponto, há limites. Não é totalmente verdade que só os demais "precisam dos EUA". Os EUA também precisam.

Tática da direita é boa para ganhar, não para governar

Tática de confusão de Trump acaba criando problemas | Foto: RS/Fotos públicas

Alguns analistas de marketing político vêm estudando as estratégias utilizadas pela nova direita. E avaliam que elas se mostram ótimas para vencer eleições. Mas péssimas para governar. Elas são muito baseadas nas táticas militares de guerra híbrida. Que se baseiam na manutenção de um forte discurso de desinformação e de confusão. Produz desorientação. Que gera pânico e frustração. O eleitor, então, conclui que a solução para tudo isso só pode vir a partir de uma mudança radical. O problema é que, em seguida, mantém-se a mesma estratégia. O sentimento de desorientação permanece. A frustração continua.

Reeleições

Pode não ser por acaso que Trump perdeu a reeleição em 2021 para Joe Biden nos EUA e Bolsonaro aqui para Lula em 2022. E ambos permaneceram fortes depois. Porque os norte-americanos sentiram-se frustrados com Biden e boa parte sente aqui o mesmo com Lula.

Morte

O risco é a morte da política. Uma sucessão de frustrações que esgarça a crença na democracia e nas possibilidades de mudança por ela. Esse é um dos caminhos pelos quais, ao final desses processos, as democracias morrem. Satisfação é algo que decorre de tranquilidade.

Alívio

Quem está satisfeito se sente aliviado. E as estratégias de guerra híbrida copiadas para a política não geram alívio nunca. Mantêm-se na tensão permanente. No caso de Trump, podem se agravar quando o que se promete seja algo muito difícil de se cumprir de fato.

Conflitos

Dezoito estados americanos entraram com processo contra Trump pelas medidas contra estrangeiros. Os EUA caminham para deixar de serem um país branco. Se já não são. Ao perseguir filhos de migrantes, Trump pode gerar fortes conflitos internos.