A Hold Assessoria, do cientista político André Cesar, presta consultoria em São Paulo para empresas que atuam no mundo dos negócios e no mercado financeiro. André tem sido instado por seus clientes para analisar o que fará Donald Trump como presidente dos Estados Unidos a fim de orientar investimentos e passos seguintes. Se André Cesar tivesse, seria uma resposta de US$ 1 milhão. Mas o cientista político obriga-se a ser sincero. "É totalmente imprevisível", tem dito ele aos clientes, assim como disse ao Correio Político. Até onde vai de fato a capacidade de Trump de promover de fato a radicalização que promete no discurso é algo muito difícil de prever. Assim como que consequências tais ações terão e como impactarão aqui.

Para André Cesar, não há uma referência clara que aponte para tais ações num horizonte próximo. No caso, nem mesmo o primeiro governo Trump, marcado pela pandemia de covid-19, serviria de indicativo. O mundo parece ter ficado ainda mais complexo desde então.

A queda do dólar nos primeiros dias é sinal dessa imprevisibilidade. Todo o discurso de Trump propõe a criação de "uma América forte". Mas seus primeiros atos enfraqueceram a moeda do país. Talvez porque a capacidade real de fazer o que diz seja limitada.

"Trump pode fazer o que está prometendo. Tem as ferramentas para isso", avalia André Cesar. "Mas vai realmente fazer?", questiona. A dúvida está na possibilidade de que alguns discursos na prática podem acabar virando um tremendo tiro no pé dos Estados Unidos. Se Trump, por exemplo, sobretaxar produtos de outros países, em até 100% como prometeu, o resultado disso poderá ser obrigar esses países a buscarem outros mercados. Somos um de mais de 200 milhões de pessoas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o primeiro projeto da reforma tributária. Em contraposição, sinal de maior previsibilidade.

No plano internacional, há diversos outros cenários que aumentam o grau de imprevisibilidade. Trump foi dizer, por exemplo, a Vladimir Putin, da Rússia, que ele devia parar com a "guerra ridícula" que promove contra a Ucrânia. Nem Rússia nem Ucrânia acham a guerra ridícula.

Como efeito, o presidente da China, Xi Jinping, disse a Putin que os laços entre os dois países nunca estiveram "tão fortalecidos". Não parece, portanto, que Trump seja capaz de parar a guerra na Europa apontando o dedo para a cara de Putin ou lhe fazendo ameaças.

Da mesma forma, André Cesar considera ser ainda incerto o cenário no Oriente Médio. Será mesmo definitivo o cessar-fogo entre Israel e o Hamas? Significa uma trégua temporária ou o fim da guerra? Outro cenário incerto que precisa ser observado é entre China e Taiwan.

Apostar num crescimento dos mercados emergentes como reação é uma aposta possível. Mas arriscada. Como se posicionarão outros países também à direita na Europa ou mesmo na América do Sul, como a Argentina de Javier Milei? Que alianças se formarão?