Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Gonet mostra trilha da arapongagem fake

Ramagem e Heleno: o comando da arapongagem | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

É possível que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nunca tenha de fato conseguido ser o que deveria: um organismo capaz de produzir relatórios de inteligência para subsidiar o governo. Mas deixara de ser o que era o extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) da ditadura: um mero escritório de bisbilhotagem montado para monitorar adversários e tentar produzir contra eles dossiês que destruíssem suas reputações. Em parte das 272 páginas da sua denúncia, o procurador-geral da República mostra como na era Jair Bolsonaro, sob o comando do general Augusto Heleno e de Alexandre Ramagem a Abin volta a ser o campo da arapongagem rasteira. Com um perigoso adicional: o potente canhão das redes sociais.

 

Araponga

O termo "araponga" foi cunhado pelo genial dramaturgo Dias Gomes para o personagem de uma novela. Ele era um agente idiota do SNI interpretado por Tarcísio Meira. Seu codinome era "Araponga" e só o que ele fazia na vida era bisbilhotar os outros.Por sorte, muito mal.

Dupla de máfia

Gonet revela a existência de dois arapongas que poderiam serão tão risíveis quanto o personagem de Dias Gomes se não fossem trágicos. Seus nomes bem poderiam ilustrar o título de uma série de máfia em algum streaming: Giancarlo e Bormevet.

Gonet mostra como se dissemina uma fake news

Gonet detalha como se constroi uma fake news | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na página 57 da denúncia, Gonet mostra em detalhes como se produz e se dissemina uma fake news. A intenção era tentar ao mesmo tempo destruir a reputação da empresa Positivo Tecnologia, do atual presidente do STF e na época presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso e do ministro Luiz Fux. Para tanto, são usados os talentos dos dois arapongas com nome de título de série de máfia: Giancarlo e Bormevet. A Positivo Tecnologia foi a empresa que fabricou parte das urnas eletrônicas que foram usadas nas eleições de 2022. O propósito era produzir uma mistureba capaz de desacreditar a empresa.

"Um cara"

A história já começa com um diálogo inacreditável. "Tem um cara que publicou um tweet sobre a invasão das urnas", diz Bormevet. "Precisamos qualificá-lo com um currículo". O seja, "um cara" qualquer. Então, qualifica-se ele para dar valor à tolice que escreveu.

Positivo

Então, afirma-se que "um escritório" da "família de Barroso" teria alguma relação com o banco Itaú. E se afirma que o banco Itaú teria participação acionária na empresa Positivo. Para a dupla de série de máfia, Giancarlo e Bormevet, era já o suficiente para associar tudo.

Mistureba

A mistureba, então, era dizer que empresa que fabricara as urnas seria de propriedade do banco, que teria associação com um escritório ligado à família do presidente do TSE. Certeza: para quê? "Não sei se o sobrinho do Barroso é sobrinho mesmo", diz Bormevet.

"Malucos"

Ou seja, Bormevet e Giancarlo não tinham certeza de nada. Mesmo assim, chegam à seguinte conclusão "Joga no grupo dos malucos". Assim, os "malucos" passaram a disseminar a história. Na sequência, Gonet mostra esse fiapo ganhando força em posts no X.