Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Gleisi recebe apoio na teoria. Como será na prática?

Para onde Gleisi conduzirá a articulação política? | Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

As notas de apoio dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) à nomeação de Gleisi Hoffmann para a Secretaria de Relações Institucionais geram certo alívio na Esplanada dos Ministérios. Ficou claro que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fizera uma comunicação prévia. As notas saíram praticamente ao mesmo tempo, e com mensagens muito parecidas, de desejo de sucesso. Na resposta, Gleisi prometeu "diálogo". Depois de um temo em que a troca de farpas era um tiroteio crônico entre o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) e o antecessor de Gleisi, Alexandre Padilha, pode ser um prenúncio de alívio. Mas é preciso, porém, agora verificar na prática.

 

Parado

Dizem que o ano no Brasil só começa quando o carnaval termina. Mas, desta vez, o Congresso exagera. Motta e Alcolumbre foram eleitos em 1º de fevereiro. O Congresso retornou há mais de um mês. No entanto, até agora, o Senado só fez uma sessão deliberativa.

Orçamento

O país vai para o terceiro mês de funcionamento sem o orçamento votado. Em princípio, fechou-se o acordo com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino para a liberação das emendas. Mas há ainda problemas que podem empacar a questão orçamentária.

O Congresso gostará do recado passado com Gleisi?

Haddad e Gleisi agora: apoio ou "austericídio"? | Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

As razões que levaram Lula a optar por Gleisi passam por uma desconfiança que destacamos algumas vezes aqui no Correio Político. Depois do complicadíssimo ano em que Lula viu-se total refém do Centrão e de Arthur Lira, a reforma ministerial patinava na desconfiança do presidente. Devia abrir mais espaço em seu governo para o Centrão sem ter a mínima garantia de que o Centrão de fato lhe emprestaria apoio? Lula explicitou isso na reunião ministerial que fez em janeiro, quando perguntou diretamente aos ministros não petistas se seus partidos estavam mesmo dispostos a ir com ele até o fim. Ninguém deu a ele tal garantia.

Curitiba

A entrada de Gleisi reforça, assim, a força que tem hoje a chamada "Turma de Curitiba" sobre Lula. Gleisi é mais uma no entorno de Lula do grupo que mais forte emprestou apoio e solidariedade a Lula na prisão. Mais um passo a afastá-lo da "Turma de São Bernardo".

Centrão

Se Lula, assim, opta por dar a articulação política a um nome do seu afeto e confiança, terá agora que conviver com a reação do Centrão. Gleisi dá a Lula mais confiança no seu entorno, mas o que, de fato, ela poderá entregar ao grupo que hoje domina o Congresso?

Haddad

Uma das grandes incógnitas está relacionada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e à agenda do governo nas relações com o Congresso pelos próximos meses. Essa agenda foi entregue no início da sessão legislativa. E ela é toda de Fernando Haddad.

Agenda

Haddad apresentou ao Congresso uma agenda com 25 pontos. Que inclui a reforma tributária. Que, sem regulamentação, ainda é pouco mais que uma promessa. Na cozinha do Planalto, Gleisi agora ajudará? Ou continuará chamando Haddad de "austericida"?