Por: POR RUDOLFO LAGO

CORREIO POLÍTICO | Tática de ataque ao STF assusta parte da direita

"Auto-exílio" de Eduardo nos EUA gera temor | Foto: Reprodução/vídeo

À medida que vai ficando mais clara, a tática que passou a ser adotada pela família Bolsonaro e pelo bolsonarismo mais radical começa a provocar temores no campo da direita tradicional, do conservadorismo mais moderado. Embora não admita publicamente, a tática vem provocando arrepios no próprio presidente do PL, Valdemar Costa Neto. O grupo mais moderado, especificamente o Centrão, não parece interessado em se vincular explicitamente ao que vai se tornando uma guerra contra um dos poderes da República, o Judiciário. Se por um lado a tática pode galvanizar o grupo mais extremado, por outro o vai isolando. E tornando, com isso, cada vez mais remota a possibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro reverter a sua situação.

 

Anistia

O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), tentou ter uma conversa mais aprofundada com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), na quinta-feira (20) a respeito da votação do projeto de anistia pelo 8/01. Acabou não obtendo resposta concreta.

Urgência

Sóstenes não apresentou o requerimento de urgência para o projeto para não afrontar Hugo Motta. Disse que respeitará o tempo do presidente da Câmara, que viajará na semana que vem para o Japão na comitiva de Luiz Inácio Lula da Silva. A discussão ficará para depois.

No fundo, a essa altura não há segurança para anistia

Sóstenes promete obstrução se Motta não pautar | Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

Segundo Sóstenes, Hugo Motta disse a ele que queria conversar ainda antes de embarcar para o Japão na sexta-feira (21). Mas, no fundo, o adiamento tem relação com certa falta de segurança a essa altura sobre as chances do projeto. De acordo com Sóstenes, depois do retorno daqui a duas semanas, Motta dirá se acatará a urgência ou se instalará comissão especial para analisar a anistia, o que deverá ser o mais provável. A comissão significa mais protelação. Mas, para Sóstenes, pelo menos, o projeto começaria a tramitar. O problema é que a tática adotada a partir do "auto-exílio" do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) pode vir a retirar apoio.

Pressão

No primeiro momento, a decisão de Eduardo, não combinada, gerou surpresa geral. Depois, porém, o PL mais extremado uniu-se em torno do discurso de que seria uma atitude "corajosa", para denunciar, no exterior, os atos do Supremo Tribunal Federal e de Alexandre de Moraes.

Comissão

Eduardo, assim, não presidirá a Comissão de Relações Exteriores, mas, mesmo assim, a ideia é que ela, sob o comando de Filipe Barros (PL-PR), seja a tribuna pela qual se ampliará esses ataques no Brasil. E, nos EUA, Eduardo buscará ajuda por lá da direita.

Democracia

Se une os mais extremados, afasta os moderados. O próprio Hugo Motta já tratou de declarar que "não há exilados no Brasil", numa clara referência a Eduardo Bolsonaro. Reafirmou ainda que o Brasil tem uma democracia e respeita o Estado Democrático de Direito.

STF

No STF, então, a preocupação agora é saber dosar o julgamento, de modo a não parecer que se intimida com a tática extremada, mas sem também cometer atos que possam parecer abuso das prerrogativas dos acusados e de seus advogados. Um ajuste bem delicado.