Para além das coisas que requerem uma explicação racional, parece haver um profundo sentido em Brasília ter chegado aos seus 65 anos de idade exatamente no mesmo momento em que o mundo se despedia do Papa Francisco. É impressionante como em volta dos belíssimos traços erguidos do gênio de Oscar Niemeyer, ateu e comunista, há uma intensa espiritualidade. Que começa com o sonho de Dom Bosco que, em 1833, previu que "entre os graus 15 e 20, havia uma enseada bastante larga que formava um lago". E completava Dom Bosco em sua profecia: "Quando vierem a escavar as minas escondidas no meio destes montes, aparecerá aqui a terra prometida, de onde jorrará leite e mel. Será de uma riqueza inconcebível".

Que a capital do terceiro milênio, como previa Dom Bosco, seja a terra da tolerância com que tanto ansiava Francisco. Quem sabe se, guiada pelo espírito do Papa, Brasília passe agora a ocupar o destino de conduzir o planeta a uma nova era como previa Dom Bosco?

Além da visão de Brasília, Dom Bosco teve ainda outros 169 sonhos. Em um deles, Dom Bosco viu uma batalha marítima totalmente desigual. De um lado, uma frota imensa, de outro uma única embarcação. Diversas vezes atingida, ela nunca era derrotada.

A embarcação única imaginada por Dom Bosco era a Igreja. Agora, o mundo questiona qual será o futuro diante da imensa pressão que parte da extrema direita faz pela vitória de um tempo de ódio e preconceito, que tinha em Francisco um pilar de oposição, abrindo de Roma as portas da Igreja para os mais frágeis, para os excluídos, para os diferentes. Segundo o arcebispo de Brasília, dom Paulo Cezar Costa, Francisco tinha planos de vir à capital do Brasil este ano, caso a saúde lhe permitisse. No ano passado, Dom Paulo levou a Francisco três cartas, dele próprio, do presidente Lula e do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.

Na época, o site Metrópoles teve acesso a uma das cartas. "Nossa admirável cidade foi fundamentada na justiça e na fraternidade", dizia. Eis aí a conexão que une o sonho de Dom Bosco ao sonho de Juscelino Kubitschek. E estes ao sonho de planeta mais fraterno de Francisco.

Nada na escala monumental de Brasília foi construída por acaso. Tudo tem um plano muito detalhadamente concebido. Assim, não é à toa que a Esplanada dos Ministérios se inicie na Catedral de Brasília e vá terminar com o Congresso Nacional ao centro.

Todas as sessões do Congresso, na Câmara ou no Senado, começam com o presidente proferindo as seguintes palavras: "Sob a proteção de Deus...". E foi, então, "sob a proteção de Deus" que Lúcio Costa e Niemeyer iniciaram a avenida onde as decisões do país são tomadas.

A via, termina, então, tendo ao centro o prédio em forma de H com as duas cúpulas do Congresso Nacional. Ao mesmo tempo, o cérebro onde as leis são concebidas, e o pulso de onde jorra o sentimento da Nação. Que seja para sempre inspirada na eterna visita de Francisco.