Por: Sérgio Cabral*

O grande espetáculo na Sapucaí

Magali e Sérgio Cabral pai | Foto: Reprodução

"Samba, és hoje da alta sociedade, desce do morro pra cidade. E já frequentas o Municipal…" (Nelson Sargento)

Meu pai e minha mãe, Sérgio e Magaly, têm 62 anos de casados e de carnavais. Ensinaram-me a amar o samba, o carnaval. Com eles frequentei quadras das escolas de samba, conheci grandes compositores e integrantes das agremiações.

Hoje, à tarde, saberemos quem será a campeã do carnaval carioca de 2024.

O desfile das escolas de samba da Marquês de Sapucaí é, sem dúvida, um dos grandes espetáculos da Terra. Se houvesse uma consulta planetária sobre os maiores espetáculos contemporâneos da humanidade, o desfile da Sapucaí estaria entre os 7 mais espetaculares. Já fomos campeões com o Cristo Redentor em 2007, entre as sete maiores maravilhas contemporâneas da Terra. Seríamos bi, caso grandes eventos fossem submetidos ao crivo da escolha mundial.

Além de gerador de uma incrível alegria coletiva, de uma estética própria e peculiar, um ritmo enlouquecedor com orquestras de percussão, a bateria, que não tem igual no planeta. Carnavalescos que poderiam estar na Broadway ou em West End. Passistas que são bailarinas e bailarinos em coreografias que são copiadas no Brasil e no mundo.

O carnaval é, também, um grande gerador de empregos e prosperidade. Milhares de trabalhadores dedicados ao preparo do desfile da sua escola. Toda a indústria cenográfica é mobilizada. Uma grande ópera popular ao ar livre. E, para adornar o espetáculo, Brizola e Darcy Ribeiro convidam o genial arquiteto Oscar Niemeyer para projetar o Sambódromo. E, em menos de 5 meses, se constrói uma obra grandiosa, com um adendo: durante o ano é escola de ensino público.

Meu primeiro desfile em escola de samba foi pela Em Cima da Hora, em 1973. O que seria o grupo especial desfilou nesse ano na Av Presidente Vargas. E a Em Cima da Hora estava lá.

Pois bem, o local do desfile trocava a toda hora.

Fomos para Sapucaí. Entretanto, havia a crítica da imprensa, com razão!, do monta/desmonta das arquibancadas e camarotes. E a sua precariedade.

Daí vêm Brizola e Darcy e constroem juntos com Niemeyer e, importante que se ressalte, com a fundamental presença do engenheiro calculista José Carlos Sussekind, o Sambódromo, em menos de 5 meses. Uma obra imortal. Qual foi a reação da imprensa e de parte da crítica especializada? Pau na iniciativa! Críticas e mais criticas! Inclusive, que a Apoteose era horrorosa e um equívoco!

Mas, cara leitora, caro leitor, (desculpe o lugar comum) as palavras o vento leva, o legado fica.

Ah, dois grandes detalhes: obra só foi possível porque, ainda em 1984, quando a obra foi inaugurada, no Brasil, o governador nomeava o prefeito da capital ( só em 85 houve eleição para prefeitos das capitais), e o caixa do estado e do município do Rio era único! A prefeitura do Rio era tratada pelo governador como uma super secretaria. Daí a ordem foi fazer o Sambódromo em tempo recorde.

E a segunda razão foi a genialidade da dupla Niemeyer/ Sussekind com a técnica do concreto pré moldado. Essa tecnologia da engenharia nacional também construiu mais de 500 escolas públicas, os Cieps.

Mas o que importa mesmo são os nossos artistas populares. Suas músicas , suas coreografias, sua criatividade. Sambas antológicos, desfiles memoráveis que não saem da minha retina.

Viva o Rio! Salve as escolas de samba!

Salve o trio Brizola/Darcy/Sussekind!!!

*Jornalista. Instagram: @sergiocabral_filho

 

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