O título desse artigo é uma frase que a então prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, determinou sua exposição em todos os ônibus da cidade de São Paulo. A frase é um beliscão na sociedade sobre alcançar a velhice e se ver respeitado por essa condição etária, verdadeira conquista civilizatória.
A chocante tentativa da sobrinha psicopata de ludibriar a caixa do banco com seu tio morto na cadeira de rodas é uma das pontas escandalosas do iceberg de intolerâncias e covardias que a pessoa idosa sofre em muitos lares e casas de acolhimento de idosos, que são verdadeiros depósitos de humanos fragilizados e, na maior parte das vezes, abandonados por seus familiares.
Já no meu primeiro mandato de deputado estadual, em 1991, me dediquei à luta dos direitos da pessoa idosa. Fui a São Paulo e aprendi com duas mulheres incríveis, que pensam a vida diferente, mas que, para mim, eram referências no tema: prefeita Erundina e a primeira-dama do estado de São Paulo, Ika Fleury. A frase de Erundina nos ônibus, logo se transformou em projeto de lei de minha autoria no estado do Rio. Foi implantada a frase nas concessões públicas de transporte no Rio. E com Ika Fleury me inspirei para produzir leis como a criação do Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Idosa. A delegacia estadual do idoso, que Ika e meu saudoso amigo Luiz Antônio Fleury, me inspiraram ao me levar para conhecer a primeira delegacia do idoso do país, na estação Barra Funda do metrô paulistano.
Prossegui como legislador estadual na luta pela pessoa idosa. Sou autor das primeiras leis do país que promoveram a prioridade do idoso na justiça e a meia entrada nos cinemas. Como senador, ao lado do meu amigo senador Paulo Paim, fui relator do Estatuto do Idoso no Senado Federal, que o presidente Lula sancionou em outubro de 2003. Também presidi a SubComissão do Idoso do Senado, criamos o ranking das cidades amigas da Terceira Idade. Aqui no Rio, fui parceiro do grande professor Renato Veras, da UERJ, na implementação da primeira Universidade Aberta da Terceira Idade, no campus principal da nossa universidade estadual.
Como jornalista, assinei durante anos uma coluna no jornal O Dia, "Os direitos da terceira idade", e na Super Rádio Tupi fazia um comentário diário sobre questões do envelhecimento e qualidade de vida do idoso.
No caso do tio morto e manipulado vergonhosamente por sua sobrinha, lembrei-me da CPI dos maus tratos aos idosos que presidi na Assembleia Legislativa do Rio nos anos 90. Casos escandalosos de maus tratos dentro das famílias. Manipulação dos recebíveis de parentes idosos que não conseguiam acessar por si mesmo suas contas bancárias. Asilos e casas de repouso que eram verdadeiros depósitos humanos. Idosos subnutridos e amarrados a suas camas, sem banho e alimentação digna.
Sociedade que não respeita a criança e o idoso é sociedade fracassada. Sem cidadania mínima. O Brasil são vários brasis. E pelos dados recentes do IBGE, continuamos um país injusto, concentrador de riquezas nas mãos de poucos, com avanços no último ano, mas muito longe do mínimo de uma nação tão rica e plural como a nossa. Já estamos entre as dez maiores economias do planeta. Entretanto, ainda estamos longe das nações com maior índice de desenvolvimento humano, o IDH, que, no fim do dia, é o que importa.
*Jornalista. Instagram: @sergiocabral_filho