Reconstrução

Haverá, em breve, a hora de financiar a recuperação do estado gaúcho, e terá que ser a fundo perdido por parte da União. Não há outro caminho.

Por Sérgio Cabral*

Bombeiros trabalhando na contenção da água do rio Guaíba

O Rio Grande do Sul sofre sua pior calamidade. Fruto de fenômeno climático radical. Volume de chuvas dantesco e espalhadas por mais de 330 cidades gaúchas. Mais de uma centena de desaparecidos e quase o mesmo número de mortes confirmadas.

A água vem destruindo tudo que vê no caminho. As bacias hidrográficas fora de controle, pontes, viadutos, represas, prédios, casas, escolas, presídios, indústrias, comércio, igrejas, escritórios, estradas, ruas e avenidas, a água não discrimina e não escolhe, ela passa e destrói em proporções catastróficas.

Vivenciei ao longo da minha vida pública muitos desastres climáticos no meu estado. Sem dúvida, o mais impactante e trágico foi o de janeiro de 2011. Sete cidades serranas foram castigadas por um volume d'água jamais visto na história. Apenas em Nova Friburgo foram mais de 400 mortos. Teresópolis, Petrópolis, Areal, Bom Jardim, São José do Vale do Rio Preto e Sumidouro foram também muito atingidas com centenas de mortos. 918 vidas foram ceifadas na catástrofe.

Conseguimos recuperar as cidades. Num esforço gigantesco. Milhares de moradias foram construídas, encostas, rodovias, produção agrícola, indústrias e comércio. Tudo foi planejado no Programa de Recuperação das Cidades Atingidas.

Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, afirma com propriedade que o estado necessitará de um "Plano Marshall", que foi na verdade o Plano de Recuperação da Europa após o fim da Segunda Guerra Mundial. Recursos dos Estados Unidos a fundo perdido ao continente europeu. Além de financiamentos gigantescos ao setor privado europeu. A União Soviética em escala menor e com foco de regime autoritário fez o mesmo no Leste Europeu.

No caso do Rio Grande do Sul, minha sugestão é que Lula, Leite, Haddad e Tebet convoquem o BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento, o CAF, Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe, o Banco Mundial, o BNDES, a Caixa Econômica e o Banco do Brasil para um conjunto de investimentos no estado. Todos os segmentos sociais, sobretudo os mais pobres, foram afetados. Toda a agricultura gaúcha foi atingida. Assim como a indústria e o comércio. Sobretudo os mais modestos produtores rurais, comerciantes e industriais. A infraestrutura necessitará de investimentos gigantescos. 330 cidades atingidas! É muita coisa.

O governo federal terá que desembolsar inexoravelmente bilhões de reais do Tesouro Nacional. Não tenho dúvida. Daí que o Tesouro tem condições de negociar condições especiais com bancos de financiamento e, caros amigos Haddad e Tebet, assumir essa dívida. Pelo povo gaúcho e brasileiro. O RS já está em regime especial com programa de recuperação monitorado pelo TN. Não tem capacidade mínima de fazer frente às suas necessidades imediatas, e, sobretudo, de médio e longo prazo.

O povo gaúcho deu muito ao Brasil. Os gaúchos estão espalhados pelo território nacional. Foram desbravadores no Centro Oeste e Norte do país. Estão aqui no Rio, em Brasília, São Paulo, enfim, tem muito Brasil no povo gaúcho.

O Cemadem, Centro de Monitoramento de Desastres Climáticos, do Ministério da Ciência e Tecnologia, adverte que virá mais chuvas nessa semana sobre o Rio Grande do Sul. Portanto, ainda teremos más notícias.

Hora de solidariedade, doações e apoio.

Mas haverá, em breve, a hora de financiar a recuperação do estado gaúcho, e terá que ser a fundo perdido por parte da União. Não há outro caminho.

Aqui no Rio estávamos em outra condição financeira e pudemos realizar em parceria com a União. Não é o caso do Rio Grande, e o Brasil deve muito ao povo gaúcho e é hora de retribuir.

 

*Jornalista. Instagram: @sergiocabral_filho