Rock in Rio

Em janeiro de 1985, o Brasil realizou o seu primeiro grande festival de rock, o Rock in Rio. Iniciativa da família Medina.

Por Sérgio Cabral*

Rock In Rio promete agitar a economia de toda a cidade

Em janeiro de 1985, o Brasil realizou o seu primeiro grande festival de rock, o Rock in Rio. Iniciativa da família Medina. De enorme tradição na realização de eventos promocionais, iniciada por Abraham Medina, pai do publicitário Roberto Medina e do ex-deputado federal Rubem Medina, e proprietário da rede de varejo "Rei da Voz", cujo nome tem origem na forte amizade entre ele e o "cantor das multidões", Francisco Alves. Abraham Medina liderava os grandes eventos no Rio, então capital federal e, depois, estado da Guanabara, de 60 a 75, do século passado.

Os filhos levaram adiante o talento do pai, principalmente Roberto Medina, que passou a liderar a agência de publicidade Artplan. Rubem seguiu sua trajetória política como deputado federal. E não foram poucos mandatos. Tornou- se o decano na Câmara Federal até aposentar-se.

O ano de 1984 foi de muita efervescência. Começou com a luta pelas eleições diretas para presidente da república. A emenda constitucional do Deputado Dante de Oliveira foi derrotada por poucos votos. Daí surgiu a alternativa do Colégio Eleitoral, arapuca montada pela direita para a escolha indireta para presidente da república. Rubem Medina, que apoiava o regime militar, segue outros líderes da centro direita como Antônio Carlos Magalhães, Marco Maciel, Jorge Bornhausen, entre outros, que rompem com o regime e apoiam a candidatura pelo colégio eleitoral da chapa Tancredo Neves / José Sarney. Sarney era o representante desse segmento, inicialmente Frente Liberal, depois Partido da Frente Liberal, depois Democratas e, no momento, União Brasil, fruto da fusão com o PSL, ex-partido de Bolsonaro.

Voltamos ao rock, mas com política. No burburinho da campanha quente de Tancredo contra Maluf, candidato da ditadura no colégio eleitoral, toda a simpatia da imprensa e da maioria da opinião pública era por Tancredo Neves. Pude participar desse momento extraordinário e ficamos preocupados quando Tancredo deu uma declaração ruim sobre o Rock in Rio, no final de 84. Aécio Neves, seu neto e secretário particular, pediu auxílio aos que militavam na juventude em todos os segmentos para um grande evento, no Recife, de apoio a Tancredo. Em poucos dias, realizamos um grande show na praia da Boa Viagem, com milhares de jovens e a presença de centenas de de referência na juventude, desde artistas a desportistas. Um sucesso. A crise foi evitada.

O Rock in Rio foi puro êxito e celebração. Janeiro de 1985 foi um mês consagrador de virada na história do Brasil. O maior festival de rock foi realizado nesse contexto. Com com shows memoráveis da banda Queen, James Taylor, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Lulu Santos, entre outras atrações internacionais e nacionais do rock brasileiro, que explodia de talentos naquela década. O festival transcorreu em paz e com muita celebração pela vitória de Tancredo/Sarney no colégio eleitoral. Era o começo da Nova República, fruto da aliança do PMDB, trincheira principal da oposição ao regime e do PFL. O PT não soube compreender o momento e, não só se ausentou, como puniu com a expulsão do partido os lúcidos deputados que foram ao colégio eleitoral e deram seus votos a Tancredo-Sarney.

Os Medina, assim como a TV Globo, eram oposição ao governo de Leonel Brizola no estado do Rio. Após o festival, Brizola desapropriou o terreno onde foi realizado o Rock in Rio.

Em 1991, o festival voltou ao Rio, mas no Maracanã. Moreira Franco, governador do Rio, de 87 a 90, amigo dos Medina e oposição a Brizola, deixou tudo pronto para o evento no estádio, em janeiro de 91. Brizola retorna ao poder, mas as datas estão marcadas e o Rock in Rio é mantido no Maracanã, propriedade do governo do estado, pois o desgaste seria enorme para o líder gaúcho.

Após dez anos sem evento, mais um voo de galinha, em 2001. O evento foi realizado na Barra da Tijuca, em propriedade particular, e deu enorme prejuízo aos Medina. Foram mais anos sem festival.

No início de 2010, recebi a visita dos Medina. Rubem, meu amigo, Roberto, e os filhos Roberta e Rodolfo. Nos mobilizamos pelo retorno do festival. Liguei para o prefeito, Eduardo Paes, e combinamos a antecipação da obra do Parque dos Atletas, obrigação nossa na matriz de infraestrutura para a realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. Estabelecemos um valor substancial de suporte via lei de incentivo à cultura. Em 2011 retornava à nossa cidade o Rock in Rio. Os Medina, exilados do Rio pela incompetência de meus antecessores, realizaram nesse período os festivais Rock in Rio Lisboa e Rock in Rio Madri.

Depois de 2011, o Rock in Rio foi realizado a cada dois anos, cada vez com maior sucesso. Parou, assim como o planeta, pela tragédia da COVID.

Essa semana teremos Rock in Rio. No Parque Olímpico. Onde, infelizmente, o espaço tem sido mal utilizado durante o ano. O Rock in Rio é uma exceção à regra. Grandes atrações internacionais e nacionais. Cada vez mais inclusivo e conectado com as bandeiras e causas da humanidade, como a questão ambiental e as injustiças sociais, o Rock in Rio tem tudo para ser mais um grande sucesso de público e energia. Tem grandes patrocinadores, já não depende de incentivos do poder público, o apoio promocional e a cobertura do Grupo Globo, e é marcado por grande profissionalismo, tendo como referência atual da família Medina a filha Roberta, talentosa e muito profissional. O grupo controlador da marca Rock in Rio não é mais a família Medina, mas sem eles, não tem festival. O Rio e o Brasil devem muito à família Medina. Pela exposição positiva de nosso país, pela economia aquecida pelo evento e pelo amor e resiliência na luta por um evento monumental e que leva no nome a cidade mais bela feita por Deus na Terra, o Rio de Janeiro.

*Jornalista. Instagram: @sergiocabral_filho