O governo do presidente Lula vive um dilema. Cortar custeio, investimentos, subsídios, privilégios de certos setores ou ir na jugular dos pobres desse país tão injusto.
Na verdade, o que o Brasil precisa é crescer com investimentos em infraestrutura nas grandes metrópoles, como em metrô e trens, onde moram milhões e milhões de brasileiros que sofrem diariamente nos transportes precários, cujos serviços não dão conta da demanda do ir e vir para o trabalho, estudo e lazer dos brasileiros que não possuem automóveis, nem recursos para os serviços de táxi, ou quaisquer outros serviços que usam a tecnologia para servir a população com seus aplicativos como Uber, 99 e por aí vai.
Estradas de qualidade e ferrovias que facilitem o ir e vir de pessoas e mercadorias para médias e longas distâncias que tanto são necessárias. O escoamento da produção agrícola brasileira padece de melhor infraestrutura. Temos uma das mais sofisticadas produções agrícolas, graças à garra de brasileiros que desbravaram nosso país de dimensões continentais. Temos uma das melhores empresas públicas do mundo de suporte e orientação aos nossos agricultores, a Embrapa, além das similares estaduais como Emater e Pesagro, cujo desempenho depende dos governos estaduais da ocasião. O excelente programa Globo Rural, de ontem, domingo, expõs a realidade de 4 milhões de trabalhadores do campo que não têm banheiro em casa. Repito: não têm banheiro em casa! Assim como o presidente Lula não teve durante parte de sua vida com seus irmãos sob o comando da sua corajosa mãe, Dona Lindú. Ele, mais do que ninguém, conhece e vivenciou essa realidade.
Dilma durante seus 5 anos e 5 meses de mandato fortaleceu as críticas dos liberais mais empedernidos e da extrema direita ao implementar políticas públicas desastrosas no campo econômico-financeiro e da infraestrutura com intervenções desnecessárias. No campo da falsa moralidade saiu demitindo seus ministros em nome do que ficou denominado pela imprensa conservadora, que não suportava Lula e seu êxito, como "faxina moral". Chegou a superar seu padrinho nas pesquisas comparativas entre seu primeiro ano, em 2011, e Lula em 2003. Alimentou o "ovo da serpente".
Em dezembro de 2012, Dilma e Mantega pediram ao prefeito eleito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad e ao reeleito do Rio, Eduardo Paes, que adiassem o reajuste das tarifas de ônibus de janeiro, quando era usual os reajustes, para junho, com o objetivo de que o custo do transporte nas duas maiores cidades do país não impactassem a inflação de janeiro de 2013, já que elas entravam na cesta de cálculo da FIPE/USP. Em troca prometeu a liberação de financiamentos às duas cidades. A decisão casuística provocou um desastre no país. Daí surgiram os movimentos contra os reajustes, às vésperas da Copa das Confederações - as manifestações de quebra-quebra, black bocs e até mortes pelo Brasil com a bandeira " Não vai ter Copa". Disse à Dilma e ao empresário João Roberto Marinho, que me procuraram para ouvir minha opinião sobre esse caos, que não eram manifestações que lembrassem as de 68, e sim às "marchas com Deus pela família", incitadoras do golpe de abril de 1964. Não me ouviram. O grupo Globo alimentou o movimento e Dilma foi à tv para dizer que os estádios e arenas de futebol não tinham dinheiro do tesouro nacional, e sim finaciamentos feitos pelos governos estaduais. E, quando Brasília foi cercada e depredada pelos extremistas e ingênuos do rebanho, ela que foi torturada pelos "gorilas" e resistiu, sancionou a lei da delação premiada. Anos depois eles se sofisticaram com a "lava-jato" e os seus métodos por dentro das instituições democráticas. Já não torturavam fisicamente. Montaram dois "aparelhos" em Curitiba e Rio onde Moro e Bretas comandavam a destruição do Brasil em promiscuidade com membros do ministério público. No meu caso , os dois juízes e procuradores combinaram e expediram minha prisão simultaneamente! Fato único na história da famigerada operação. Promiscuidade absoluta entre dois juízes e representantes do "Parquet" que invadiram a minha casa e dos meus familiares. Me prenderam e a minha então companheira. Processaram e caluniaram minha ex mulher, meu irmão e um de meus filhos. O famigerado Bretas me recortou em 38 processos criminais com penas de mais de 400 anos. No meu terceiro ano de prisão, após ver a armação feita contra meu filho Marco Antônio, às vésperas de sua reeleição para deputado federal, na sexta-feira que antecedia o pleito, em condenação de segunda instância por visitar seu pai na cadeia como filho, no pátio, como advogado nas salas definidas pelo sistema carcerário, e como deputado federal, como vários parlamentares foram visitar a mim e outros presos da lava-jato e divulgada com gosto e amplitude por grande parte da mídia, punindo-o com a inegebilidade, fraquejei e fiz uma delação mentirosa e irresponsável pelo ódio que sentia em minha alma. Errei e feio! Me envergonho e peço PERDÃO a todos que citei, injusta e covardemente. Graças ao bom Deus e ao STF minha delação foi anulada. Mas carrego comigo uma dor e arrependimento que só eu sei.
Mas volto à atualidade para dizer que confio muito na dupla Lula/Haddad na condução das decisões que serão tomadas. Penso que há espaço para não jogar outra vez o país na falsa dicotomia "Faria Lima" versus "pobres", incitada por Dilma. A "Faria Lima" é vital para o país, assim como as politicas sociais distributivas conquistadas pela Lei Orgânica da Assistência Social e o Bolsa Família, entre outras.
Tive "pitbulls" muito qualificados como Joaquim Levy, Renato Vilela, George Santoro e Sérgio Ruy Barbosa na gestão orçamentária e financeira durante meus oito anos de governo. A consultoria do craque Vicente Falconi e seu time no combate ao mau custeio e criação de metas, e implementadores finalísticos como José Mariano Beltrame, Sérgio Cortes e Wilson Risolia que, aliás espelha exatamente os dois lados da moeda: fez gestões impecáveis nos 4 primeiros anos como presidente do Rio Previdência e nos 4 seguintes como meu secretário de educação. Depois de 10 anos no "serasa", sem poder pegar financiamento, o Rio alcançou o primeiro "investment grade" da história para estados subnacionais da América do Sul.
O professor e economista Delfim Neto foi de enorme infelicidade ao dizer, na condição de ministro do regime autoritário, que primeiro se deve fazer o bolo crescer para depois distribuí-lo. Lula e Haddad estão ouvindo todos os segmentos organizados dos empresários e trabalhadores e, tenho certeza, têm em mente e prioridade os milhões que não tem sindicato nem confederação para defendê-los, isto é, os mais pobres e miseráveis do nosso Brasil.
*Jornalista. Instagram:
@sergiocabral_filho