Em 1582, o papa Gregório XIII convocou matemáticos, cartógrafos, astrônomos e filósofos para corrigir os erros do, até então adotado, calendário juliano. De lá pra cá, com exceção do Afeganistão, Irã, Etiópia e Nepal, todos os países do planeta adotam para fins civis o calendário gregoriano. Pois é nele que nos baseamos para celebrar, amanhã, a despedida do ano velho e a chegada do ano novo. E é nele que me baseio para uma análise do que vivenciamos na última década no Brasil.
O país passou por enormes turbulências nesses últimos 10 anos. Duas tentativas de impeachment presidencial. Uma teve êxito, a de Dilma Rousseff. A outra foi derrotada, a de Michel Temer. A chapa vitoriosa em 2010 e reeleita em 2014 se esfacelou pelo temperamento difícil e pouco hábil de Dilma. A economia ia de mal a pior em 2015 e 2016. E é ela, a economia, o maior trunfo ou o maior estorvo da presidência da república. Em momentos de crise, a habilidade e inteligência emocional de quem ocupa a cadeira são testadas no limite.
2017 e 2018 foram anos difíceis para o país, mas graças ao temperamento de Michel Temer e sua experiência como parlamentar - presidiu a Câmara dos Deputados por três vezes - e à competência de Henrique Meirelles, o país se safou do abismo. Apesar da política contaminada pela maior tentativa de golpe institucional da história republicana: a lava-jato.
Essa lava-jato que leva o eleitorado a votar contra tudo e contra todos em outubro de 2018.
2019 foi um ano esquisito. A presidência de Bolsonaro apostava, desde a posse, na ruptura institucional. Numa jogada marqueteira nomeou Moro para ministro da justiça. Presenteou aquele que prendeu Lula e facilitou sua chegada ao Palácio do Planalto. Mas com menos de um ano percebeu que havia colocado o escorpião para mordê-lo.
2020 e o drama humanitário da Covid. Com a chaga da contaminação em massa houve mudança radical na agenda de todos os governos do mundo. Uma calamidade assustadora. Não é o caso, agora, de relatar o que vi na prisão, mas posso assegurar que vivi cenas e momentos chocantes.
A Covid tomou conta da agenda de 2020 e 2021. Trump perdeu a reeleição para a presidência dos Estados Unidos muito pela forma como encarou a desgraça de milhões de pessoas. Por aqui não foi diferente. O desdém de Bolsonaro teve preço alto na sua tentativa de reeleição: perdeu para Lula em 2022. Eleição acirrada e com país dividido. A divisão polarizada não é problema, ela faz parte do modelo democrático. Entretanto, no Congresso Nacional, ela se reflete de maneira pulverizada, são quase 20 partidos e federações partidárias. E não é uma polarização majoritária. Ela se dá ao tempero dos acordos políticos e do jogo de interesses de partidos e, muitas vezes, de membros do partido que não seguem a orientação partidária. Isso não é um fenômeno de agora. Desde a redemocratização do país há uma falha no modelo representativo parlamentar. O sistema proporcional gerou essa distorção, ao meu ver. Pessoalmente não posso me queixar dele. Fui deputado estadual com votações significativas nos 92 municípios do meu estado. Mas não é o melhor critério. Basta ver o modelo norte-americano, inglês ou alemão- o meu preferido.
2023 começou com a versão truculenta da lava-jato. Já que não deu para dar o golpe por dentro das instituições, então partiu-se para a invasão dos Três Poderes. Graças ao Bom Deus, tiro n'água. Lula comandou a recuperação do poder de compra dos mais pobres e montou um governo de centro-esquerda com fragilidades naturais na recomposição de forças políticas. Permitiu que Fernando Haddad e sua equipe, junto ao parlamento, avançasse em mudanças importantes na pauta econômica.
O calendário das eleições municipais de 2024 freou, no segundo semestre, e é natural e corrente no mundo democrático, as pautas no Congresso Nacional. Mas foi possível em novembro e dezembro aprovar pontos importantes no aperfeiçoamento do sistema tributário brasileiro. Particularmente, torci pela aprovação da isenção do imposto de renda para os que ganham até 5 mil reais e maior tributação aos que recebem acima de 50 mil reais por mês. Mas a política é a arte do possível. Como deve ser.
Portanto, passaremos do ano velho para o ano novo bem melhor do que há 10 anos. A notícia vinda dos números do IBGE sobre a menor taxa de desemprego da história do Brasil nos enche de esperança. Ainda temos uma taxa de juros assustadora e inibidora do empreendedorismo e do crescimento econômico. Por outro lado, a ameaça inflacionária deve ser levada em consideração, sempre.
Boto fé em 2025. Será um bom ano para os brasileiros.
Feliz Ano-Novo, com Saúde e Paz!!
*Jornalista. Instagram: @sergiocabral_filho