Mais Adrianos menos Bragas Neto
A combinação dos generais Villas Boas, no comando do exército brasileiro, e do interventor Braga Neto, em 2018, era tudo que a extrema direita sonhava desde a exoneração do general Silvio Frota, em 1977, pelo general e presidente da república Ernesto Geisel. E Lula na cadeia.
Em 2010, meu governo reagiu às ações do crime organizado inconformado com a minha reeleição para o governo do estado no primeiro turno das eleições. Obtive 5.217.972 votos de um total de 7.895.935 dos votos válidos.
Havíamos, em quatro anos do primeiro mandato, 2007/2010, pacificado diversas comunidades que passaram a ouvir o som de passarinhos e não mais de balas de fuzis. Realizamos uma parceria inédita com o governo do presidente Lula. Investimentos significativos nas favelas do Rio de Janeiro foram feitos. Em infraestrutura, cultura, educação, esporte e lazer, etc.
Toda brasileira e brasileiro tem na memória as imagens de traficantes dos Complexos da Penha e do Alemão fugindo do avanço das forças de paz, no final de novembro de 2010.
Após a retomada dos territórios pelo Estado, o exército brasileiro, em parceria com as forças policiais do estado do Rio, passaram a patrulhar e garantir o ir e vir para milhares de moradores das favelas dos dois complexos.
O general Adriano Pereira Júnior era o comandante do Comando Militar do Leste. Gaúcho de nascimento, patriota, e de uma sensibilidade impressionante. Sua preocupação era com a recepção dos moradores à nossa inédita iniciativa. O general procurava ouvir a comunidade e suas demandas. Não esqueço do dia que foi ao meu gabinete angustiado com a repressão ao chamado “gato net”, a pirataria da tv a cabo. Ao ouvi-lo, liguei para os executivos das empresas provedoras de tv a cabo, como a Sky e Claro/Net, que imediatamente aderiram ao meu pedido de um preço especial para as comunidades pacificadas, não só os complexos do Alemão e da Penha. Mas todas as favelas pacificadas. Foi um grande sucesso. Tenho na memória as minhas visitas às comunidades e me deparar com vendedoras e vendedores de planos de tv a cabo pelas ruas e vielas. A grande maioria moradores das próprias comunidades. Me vinha sempre a cabeça a pergunta me feita pela querida jornalista Monica Bergamo, em 2006, na casa de um empresário paulista, em minha primeira campanha: como eu faria, caso pacificasse as favelas, para substituir a geração da economia informal promovida pelo tráfico de drogas? A cada comunidade pacificada, via novos investimentos e geração de empregos. Restaurantes, botecos, salões de beleza, agências bancárias, etc.
O general Braga Neto assumiu como interventor militar no estado do Rio por indicação de Raul Jungmann, em fevereiro de 2018. Pezão, meu sucessor, foi trágico na gestão do governo, e depois de entregar as finanças do estado no ano anterior, com o regime de recuperação fiscal, abriu mão da segurança pública no início de 2018.
A intervenção sob Braga Neto foi um desastre. Além de ter servido de plataforma eleitoral para a articulação da direita reacionária em torno do candidato Jair Bolsonaro, seu parceiro e amigo, que disputaria e venceria as eleições para presidente da república de 2018.
A combinação dos generais Villas Boas, no comando do exército brasileiro, e do interventor Braga Neto, em 2018, era tudo que a extrema direita sonhava desde a exoneração do general Silvio Frota, em 1977, pelo general e presidente da república Ernesto Geisel. E Lula na cadeia.
Militares e civis reacionários tornaram-se ativos, articulados e ocupantes de cargos públicos no governo do Rio e em importantes cargos da república. Quase cem por cento deles engajados no sonho de ter Jair Bolsonaro no comando do Brasil. O pano de fundo não poderia ser mais propício. A lava-jato no seu auge com a grande imprensa embevecida por Sérgio Moro, Marcelo Bretas, Dallagnol, El-Hage e cia, que estavam “passando o país a limpo”. Portanto, não era necessária a articulação de golpe, bastava impulsionar a campanha do “mito”. A rede social foi o canal perfeito. Onde a violência verborrágica moralista faz enorme sucesso. Tudo que era democrático era “lixo”. E assim a direita extrema viu a boçalidade assumir, pelo voto, o Palácio do Planalto.
E a turma foi toda ocupar as salas de comando do governo brasileiro. O general Villas Boas, por razões de saúde, não pôde usufruir desse momento que ele havia tanto sonhado. Mas ganhou reiteradas homenagens de seus discípulos.
Convivi com três oficiais verdadeiramente patriotas no comando das três Forças: o general Enzo, o almirante Júlio e o brigadeiro Saito. Três notáveis brasileiros. A eles, o Brasil e o Rio, em particular, são eternos devedores.
Graças a Deus e às instituições democráticas, o Brasil tem muito mais oficiais “Adrianos” que “Bragas Neto” nas forças armadas.