O Brasil assumiu a presidência do BRICS no primeiro dia de janeiro. BRICS é o acrônimo, em inglês, de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Na verdade, a África do Sul entrou em 2011, cinco anos depois da fundação do bloco.
O curioso é que a criação do bloco teve como eixo central se tornar uma alternativa de diálogo à lógica capitalista tradicional liderada por Estados Unidos e Europa Ocidental, mas o conceito BRICS nasceu no coração de Wall Street, no Goldman Sachs, em um relatório do chefe de Pesquisa Econômica Global do super banco, Jim O’Neill, que assina o texto “Building Better Global Economic BRICs", em 2001.
De sua fundação, em 2006, até os dias de hoje, houve avanços significativos nas relações diplomáticas e comerciais entre os países fundadores do BRICS. A criação do banco de desenvolvimento dos países do bloco, NDB, em 2014, com sede em Xangai, na China, foi sem dúvida, o movimento efetivo de maior relevância e visibilidade até hoje. Ano passado foram admitidos como membros efetivos Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. O objetivo é ampliar a força do diálogo entre países de economia emergente.
No entanto, sinto falta de mais informações sobre os países membros. A China tem cobertura pífia das redes de tv no Brasil. O segundo país mais rico do mundo, com produção comercial, industrial e de serviços que consumimos cada vez mais em nossos dias. O maior parceiro comercial do Brasil, e raramente assistimos na tv ou nos veículos de comunicação notícias vindas de lá. Da mesma maneira a Índia e África do Sul. A Rússia, pela razão da guerra insana com a Ucrânia, temos notícias diárias. Na velha máxima do jornalismo, “más notícias, boas notícias”.
Mas cadê a produção cultural e criativa do povo chinês, indiano e sul africano? Como vivem? Quais as novidades? Me refiro a mais de 2,8 bilhões de pessoas chinesas e indianas e mais de 60 milhões de sul africanos.
Todos os dias somos abastecidos de notícias do eixo capitalista ocidental. Correspondentes nos Estados Unidos e na Europa Ocidental em todos os grandes veículos de informação. Mal conhecemos a vida de nossos parceiros do BRICS.
Não há integração de verdade, entre os povos, sem o fortalecimento das relações culturais e da troca de conhecimento. Os americanos perceberam esse fato desde o advento do rádio, do cinema e da televisão. Ganhar “corações e mentes” sempre esteve junto com a produção industrial bélica para forjar o império capitalista. Sou admirador dos EUA, que têm seus princípios democráticos institucionais há mais de dois séculos como um dos grandes modelos para o mundo. Assim como admiro os países europeus ocidentais. Deles temos muitas informações. Mas, e os países do BRICS?
A falta de informação gera fake news e preconceito. A ignorância é prato cheio para os que exploram a massa desinformada. Só se combate isso com produção jornalística de qualidade. Boas informações geram bons cidadãos. Além de estimular as relações comerciais, industriais e culturais entre os países. Quanto mais plural, mais interessantes ficam as nossas vidas. Somos 8 bilhões de seres humanos no planeta. Os países do BRICS representam quase a metade da população mundial.
Precisamos nos ver mais. O presidente Lula, pela sua característica de liderança aberta ao diálogo, tem todos os atributos para essa missão.
Por: Sérgio Cabral