A partir de hoje, com a posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, o mundo democrático vai precisar muito da atuação do presidente da França, Emmanuel Mácron, do primeiro-ministro da Inglaterra, Keir Starmer, do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanches, e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, líderes europeus democratas e que passam a ter a responsabilidade de frear iniciativas que possam comprometer a frágil paz mundial.
O chanceler alemão, Olaf Sholz, enfraquecido, foi ao Budenstag, o parlamento alemão, convocar novas eleições que serão realizadas dia 23 de fevereiro. Sholz, o social-democrata, está em terceiro lugar nas pesquisas e a extrema-direita (AFD) ameaça com a sua candidata, Alice Weidel, o líder Friedrich Merz, da centro-direita (CDU), partido da ex-chanceler Angela Merkel. Elon Musk já anunciou seu apoio à candidata da extrema-direita. A Alemanha é a nação mais poderosa da Europa. Imagine os alemães sob comando da extrema-direita. Causa calafrio.
A nação mais poderosa do planeta será comandada pela versão Donald Trump 2.0 turbinado com uma avassaladora vitória nas urnas. Maioria no senado federal e na câmara dos deputados.
Além do domínio do Capitólio, Trump colocou cabresto em Mark Zuckerberg e passa a ter, como seu funcionário, Elon Musk.
Trump anunciou a perseguição implacável aos imigrantes ilegais. Trata-os como "lixo", expressão preferida da extrema direita nas redes sociais, para atacar os membros dos partidos de esquerda, os progressistas e, mesmo os quadros da centro-direita.
A velha luta do norte progressista contra o sul conservador nos Estados Unidos já não existe há anos. Há novas camadas a que as redes sociais deram voz. O mau gosto impera. Ele se expressa na política, no gosto estético e no entretenimento.
Trump aposta no discurso supremacista da América. Da raça norte-americana sobre as demais. Da América Grande. Da intolerância com imigrantes ilegais. Que serão perseguidos com maior brutalidade do que em seu primeiro mandato.
Não teve a menor preocupação com a repercussão de, como presidente eleito da nação mais rica e mais fortemente armada do planeta, anunciar a anexação do Canadá, a retomada do Canal do Panamá e a ocupação da Groenlândia.
No caso do Canadá, aproveitou o desgaste do primeiro-ministro Justin Trudeau, de tradição progressista, de cujo pai, Pierre Trudeau, maior líder canadense do século passado, devorei sua magistral autobiografia.
Netanyahu já recebeu uma mãozinha amiga de Trump, que apertou seus amigos dos protetorados árabes, para uma trégua na guerra entre Israel e o Hamas, para acalmar a pressão que a sociedade israelense fazia ao primeiro-ministro pela libertação dos reféns. Israel é o único país democrático de todo o Oriente Médio. Mas vive, desde a fundação do país, em 1948, a ameaça de seus vizinhos. A radicalização ajuda os extremistas israelenses e palestinos a piorar cada vez mais suas relações. Não há ilusão. A trégua é frágil.
Já com seu amigo autocrata Putin, terá mais trabalho. A sociedade americana e os países da OTAN têm a Ucrânia como um bastião de defesa dos impulsos imperialistas do presidente russo.
Nossa América Latina não terá vida fácil com Trump. O lema "Primeiro a América" terá tradução no aumento das taxas de importação de produtos da região.
A China será provocada o tempo inteiro pela gestão de Donald Trump. A milenar paciência chinesa será testada no limite. Trump vai fustigar ao máximo a poderosa nação do Oriente. Tanto nas sobretaxas de produtos importados chineses como as empresas chinesas instaladas nos Estados Unidos, sobretudo as voltadas para a tecnologia da informação.
Trump teve muitos empreendimentos em Atlantic City, onde, antes da quebradeira, seus cassinos e hotéis chegaram a competir com Las Vegas. Cruzo os dedos para que esteja blefando e animando a sua audiência, com suas bravatas e declarações de pouca empatia. Vivemos tempos muito estranhos.
*Jornalista. Instagram: @sergiocabral_filho