Por: Sérgio Cabral

Trump é o apocalipse

Trump na Casa Branca | Foto: Joyce N. Boghosian/Official White House Photo

Em meio ao clima de Momo, o mundo se deparou com um encontro bestial. Donald Trump e seu vice humilharam o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, no Salão Oval da Casa Branca, o chefe de uma nação invadida pelo ditador imperialista, Vladimir Putin. Uma cena impensável do chefe de estado da nação democrática mais poderosa do planeta, os Estados Unidos, e que sempre esteve, até então, comprometida com o fortalecimento da Europa democrática do pós guerra.

Também no clima carnavalesco me deparo com uma outra situação bestial do chefe de estado da nossa vizinha, Argentina. Javier Milei assinou uma resolução da Agência Nacional da Pessoa com Deficiência (Andis) da Argentina, publicada nesta quinta-feira (27), que causou revolta entre entidades e famílias de pessoas com deficiência intelectual por ter classificado essas pessoas pelos termos "imbecil", "idiota" e "débil mental" de acordo com o grau da incapacidade cognitiva. 

Somente seres desprezíveis como Trump e Milei são capazes de tais absurdos: humilhar o líder de uma nação democrática em guerra e descrever semelhantes como idiotas por serem PCDs. 

Adolf Hitler pensava e agia como esses dois. E a humanidade mergulhou na mais deprimente página de sua história.

Para onde caminhamos? Que mundo desejamos para os nossos semelhantes e descendentes? A extrema direita teve o segundo melhor desempenho eleitoral nas recentes eleições da Alemanha. O ovo da serpente nunca esteve tão vivo. A AFD alemã prega o racismo explícito e a crença na pureza da raça ariana.

Emmanuel Mácron disse que é a primeira vez que os Estados Unidos se posicionam em uma guerra contra os que defendem a liberdade. Trump despertou o que há de pior no pensamento coletivo de parte significativa da sociedade norte-americana. 

Milei destruiu o aparato social do Estado argentino. Prega o fim da estrutura pública e um Estado mínimo. Um anarquista da extrema direita. Para ele o Estado só atrapalha. Num país de enorme abismo sócio-econômico entre a elite e a massa de argentinos, a consequência é o aumento da pobreza extrema no país. 

Em El Salvador, um tresloucado prende de acordo com os seus desejos sem nenhum respeito ao Estado Democrático de Direito. Nayib Bukebe é um ditador de extrema direita que usa o aparato estatal para prender marginais, o que é sua obrigação, mas também seus inimigos políticos. 

Trump enfrenta o descontentamento de dois países seus aliados europeus: a Polônia e a Hungria, lideradas por dois extremistas da direita. Jamais se aliarão a Vladimir Putin. Dois países traumatizados pelo histórico de barbaridades do império soviético, durante o período da chamada Cortina de Ferro, cujo debacle se deu no fim dos anos 80 e início dos 90.

Trump tem na alma a organização nazista norte-americana Ku Klux Kan. Tem a alma dos escravagistas do Sul dos Estados Unidos. Tem desprezo pela democracia. Usa dela para destruí-la.

Tem pavor das pessoas LGBTQI+, parece aquele personagem do primoroso filme Beleza Americana. Será que ele está no armário?

É valentão com as democracias, mas vira gatinho no trato com a Rússia, Arábia Saudita e, mesmo a Venezuela de Maduro já ganha outro tratamento da Casa Branca. Os chineses já deram um chega pra lá no cowboy nova-iorquino. Tem estrutura militar, econômica e tecnológica para falar de igual para igual com os Estados Unidos. 

O que Bill Clinton, Barak Obama e Joe Biden se esforçaram para obter do mundo uma visão melhor do país nas suas relações internacionais, Trump está fazendo o caminho inverso. Angariando antipatias ao Tio Sam em todos os cantos do planeta. A extinção da USAid é caso para o Tribunal de Haia. É crime contra a humanidade! A maior agência de cunho humanitário do mundo, extinta pelo governo Trump. Isso tem consequências. 

A Rússia não é capaz de encarar a Europa unida em torno dos ucranianos. Há recursos e estrutura bélica para fazer frente aos russos. Se isso não for feito, Putin avançará pelo território da Ucrânia. Putin é um Czar frustrado. Nasceu em São Petersburgo, sede do poder czarista, e sonha em retomar Kiev, que durante muitos séculos pertenceu à Rússia e ao estado soviético. 

Trump faz conta de padaria ao cumprir o slogan da América em Primeiro Lugar. A economia e a sociedade americana prosperaram também pela pluralidade internacional dos seus negócios. Esse protecionismo estúpido pode gerar consequências graves na economia dos Estados Unidos.

O cabelo de Trump, suas roupas, seu gosto musical e as pessoas que o cercam são garantias de que a América nunca teve tanta gente de mau gosto e cafona à frente do país. Lembro-me  de receber de Trump, após o nosso almoço na Trump Tower, uma gravata daquelas que são vendidas de souvenir de sua marca, o brega do brega. Um horror!

A aliança com as big techs a qualquer momento se quebrará. Elas, pela natureza de seus negócios, não podem se tornar chapa branca de um governo, sob pena de decadência mercadológica. 

Trump é um produtor de notícias 24h por dia. Seu desassossego é parte do personagem que deseja preencher o noticiário com suas iniciativas. E elas têm sido cada vez mais estapafúrdias. O partido Republicano não haverá de ficar o tempo todo abaixando a cabeça para suas irresponsáveis medidas. Da mesma forma a Suprema Corte.
 

Ainda acredito nos mecanismos da sociedade americana que trouxeram até aqui a democracia mais próspera do planeta. Trump é o apocalipse.