A segurança pública tem se destacado em todas as pesquisas recentes de opinião no Brasil. Não é para menos. Assistimos diariamente ao crescimento das organizações criminosas em todo o território nacional. PCC, milícias, Comando Vermelho, Terceiro Comando e tantas outras forças criminais se apoderam de bairros, cidades, negócios formais, penetram nas instituições.
Milhões de cidadãos pagam serviços de internet, luz, gás, transporte, e mesmo a garantia de funcionamento de seus estabelecimentos comerciais , ao poder paralelo. Que, caso não seja assim, são mortos. Essa situação leva alguns políticos a se promover na busca de soluções fáceis e se apropriar da bandeira da segurança pública.
Aqui, no Rio, o prefeito declarou seu entusiasmo e desejo de conhecer a experiência de Nayib Bukele, presidente de El Salvador, um ditadorzinho caricato da América Central, que se aproveitou do desespero da população de seu país com a violência em alto grau para fazer um governo de violações constitucionais e sair prendendo indiscriminadamente pessoas em nome da ordem pública. Sua política, num primeiro estágio, deu resultados que chamam a atenção, mas que, posso garantir, será um fracasso.
A insegurança leva as pessoas ao desespero. E não é para menos. Entretanto, há maneiras de enfrentar o crime organizado com força, inteligência e boa gestão, sem cair nas caricaturas que alguns desejam surfar aqui no Rio e no Brasil.
Segurança Pública passa, primeiro, pela valorização dos nossos profissionais. Policiais devem ter seus salários dignos, condições de trabalho adequadas, e independência no agir, sem a interferência de políticos nas nomeações de batalhões e delegacias.
Os territórios onde mora a população dominada pelo crime têm o direito de ter um policiamento permanente, assim como exige a burguesia em seus bairros. Além de policiamento permanente, esses territórios precisam ser atendidos por políticas públicas de mobilidade, educação, saúde, cultura, esporte e lazer, empreendedorismo, entre tantas outras iniciativas.
Da mesma maneira que me emocionava com a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs, a inauguração de uma biblioteca pública, residências, UPA 24h, agências bancárias, espaços de esportes e lazer, entre tantas outras iniciativas que pude realizar no Rio, muitas delas em parceria com o Presidente Lula, me enchiam o coração de alegria.
Ver meninos e meninas nas favelas me declarando, sem medo, o desejo de ser policiais. De ver jovens de comunidades “rivais”, rivalidade imposta pelo poder paralelo na busca pelo domínio do território, se abraçarem, conviverem em paz, frequentar a comunidade da amiga e do amigo sem medo de ser morto.
A concessionária de energia Light, nos seus números, aponta que os meus anos foram os de maior adimplência nos territórios que hoje, infelizmente, voltaram a ser dominados pelo crime.
Daí minha oposição ao discurso populista, ao político que tenta “beliscar” o momento grave que atravessamos com a chaga da violência para fazer discurso fácil e buscar soluções em El Salvador, por exemplo.
Há uma falsa dicotomia entre segurança pública x direitos humanos. Como se fosse impossível conciliar dois temas tão relevantes para o convívio humano. É perfeitamente possível e provamos isso. Dá mais trabalho? Sim. Mas é muito melhor.
*Jornalista. Instagram: @sergiocabral_filho