Por: Vicente Loureiro*

O progresso social das cidades

Vista aérea de Brasília, citada no noticiário internacional como um dos melhores destinos do mundo para se visitar em 2024. | Foto: Embratur/Sebrae/Divulgação

Será possível medir o grau de prosperidade das cidades para além dos indicadores de renda, qualidade de vida e sustentabilidade comumente usados? Parece que sim; pelo menos, essa é a pretensão do IPS (Índice de Progresso Social), criado e difundido pelo The Social Progress Institute, recentemente aplicado às cidades brasileiras. Cujos resultados nos permitem constatar que nem sempre municípios com PIB ou renda per capita alta conseguem apresentar bons indicadores sociais.

É inegável a importância do crescimento econômico para a prosperidade de um lugar, mas só ele não basta. O IPS, enquanto ferramenta de gestão do território, procura demonstrar isso indo além das avaliações de quanto, onde e em quê as cidades investem, buscando aferir os resultados concretos promovidos na vida de seus habitantes. Em quais aspectos ela melhorou e em quais ela ainda precisa avançar. Esse índice põe foco no bem-estar das pessoas para aferir a prosperidade do lugar onde vivem.

O que o IPS pretende medir é a capacidade de uma cidade ou determinado território em atender às demandas humanas básicas de seus moradores ou usuários, identificando e quantificando os condicionantes que impedem ou retardam o desenvolvimento pleno das potencialidades do lugar e de sua gente. Ele pode ajudar, e muito, na definição de estratégias de redução das desigualdades socio territoriais ainda tão presentes no ambiente urbano brasileiro.

Para cumprir seus objetivos, o IPS combina uma série de indicadores sociais e ambientais, provenientes de bases de dados de órgãos oficiais e institutos de pesquisa, e os agrupa em três dimensões distintas e complementares: a das necessidades humanas básicas, a dos fundamentos do bem-estar e a das oportunidades oferecidas ou latentes. Tal cesta de indicadores procura avaliar as condições de nutrição, acesso à habitação, nível de segurança, assistência médica, grau de escolaridade, cuidados com o ambiente, entre muitos outros.

Aplicado recentemente a todas as cidades brasileiras, mas já bastante utilizado em várias partes do mundo, o índice de progresso social revelou que entre as 20 melhores classificadas, 13 localizam-se no interior de São Paulo. Apenas duas capitais, Brasília e Goiânia, figuram nessa lista top. Já as que apresentaram pior desempenho encontram-se todas na região Norte do país. Fica lá também o caso mais emblemático de renda per capita alta e IPS baixíssimo. Trata-se do município de Vitória do Xingu, no Pará, o vigésimo maior PIB per capita brasileiro e, inacreditavelmente, o 5430° IPS. Só renda de fato não basta.

Na lista das 20 melhores classificadas no país, Niterói é a única cidade fluminense presente. O estado cujos municípios obtiveram a melhor média do Índice de Progresso Social foi São Paulo, enquanto as cidades do Rio de Janeiro o fizeram ficar em sétimo lugar. Puxando para baixo tal média, o fato de que na região metropolitana dois terços dos municípios figuram entre as 500° e 900° cidades ranqueadas pelo IPS. Reside, portanto, na periferia metropolitana do Rio o maior desafio, qualitativo e quantitativo, para que nossas cidades fiquem mais prósperas, justas e inclusivas.

*Arquiteto e urbanista