Com a chegada de "Sonic 3" e "O Auto da Compadecida 2", nesta quarta-feira, dia de Natal, vai mudar toda a configuração do faturamento das salas de cinema, com a promessa de alteração nos balanços (já feitos aqui) acerca das maiores receitas de 2024, que, no caso brasileiro, tem o imparável "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles, no topo. Muito longa-metragem há de perder tela, para a acomodação desses dois esperados blockbusters, o que inspira uma corrida pelo que está em tela hoje, principalmente as produções com perfil mais indie, inclusive aquelas com fôlego para disputar o Oscar 2025. O Correio da Manhã elenca a seguir alguns dos filmes que merecem prioridade nestes dois dias que antecedem a mudança do circuito e a farra natalina das rabanadas.
O destaque absoluto é "Queer", de Luca Guadagnino, que pode render o Globo de Ouro a Daniel Craig, o mais recente James Bond. Sua atuação é brilhante. Com sessões em diferentes telas da cidade, incluindo o recém-inaugurado Cine Carioca José Wilker, "Queer" é uma adaptação tocante do livro homônimo do beatnik William S. Burroughs (1914-1997). No roteiro escrito pelo dramaturgo Justin Kuritzkes, fotografado pelo tailandês Sayombhu Mukdeeprom nos estúdios Cinecittà, em Roma, o imigrante William Lee (Craig, devastador) passa as noites a se emburacar no álcool, em flertes com rapazes atrás de sexo. Vive só, cercado por outros americanos expatriados como ele, igualmente carentes.
Ao conhecer o jovem Eugene Allerton, um ex-soldado (vivido por Drew Starkey), Lee acredita ser capaz de estabelecer uma ligação íntima com alguém. Acaba levando o sujeito para uma jornada pelo Equador, regada a plantas alucinógenas, em sequências que trazem o diretor argentino Lisandro Alonso no elenco, ao lado da estrela britânica Lesley Manville.
Nesta segunda-feira (23), no Estação NET Rio, às 14h05, ainda é possível ver "O Quarto ao Lado", que rendeu o Leão de Ouro do Festival de Veneza ao espanhol Pedro Almodóvar. Sua trama acompanha o reencontro da jornalista Martha (Tilda Swinton) e da escritora Ingrid (Julianne Moore), que eram íntimas em sua juventude. Trabalharam juntas na mesma revista, mas Ingrid se tornou uma romancista de autoficção, enquanto Marta se tornou repórter de guerra, e elas foram separadas pelas circunstâncias da vida. Após anos sem contato, elas se reencontram em uma situação extrema, onde tudo em suas rotinas há de mudar.
Premiado com o troféu Redentor de Melhor Filme no Festival do Rio (em empate com "Baby"), o indefectível "Malu", de Pedro Freire, ainda ocupa respeitável fatia do circuito. Na trama Malu (Yara de Novaes), uma atriz de passado glorioso, que se vê presa em um caos sentimental. A relação nada leve com sua mãe conservadora, Dona Lili (Juliana Carneiro da Cunha), e sua filha adulta, Joana (Carol Duarte), torna sua crise ainda mais aguda. Um amigo, Tibira (Átila Bee), que mora com ela, tenta se equilibrar em meio ao caos que se instaura naquela casa repleta de mágoas. A fotografia (belíssima) é de Mauro Pinheiro Jr.
Quem ainda não conseguiu tempo para prestigiar a (fina) direção de Maïwenn em "A Favorita do Rei" ("Jeanne Du Barry") ganhou uma chance extra do Estação NET, nas salas da Gávea e de Botafogo, às 14h. Longa de abertura de Cannes em 2023, esta reconstituição de época causou furor pela presença de Johnny Depp, em seu primeiro papel depois da luta judicial contra sua ex, Amber Heard. Em tom de folhetim histórico, a trama é baseada em fatos reais. Sua trama reconstitui o romance entre o Rei Luís XV (1710-1774), papel de Depp, e uma cortesã, Marie-Jeanne Bécu (1743-1793), conhecida como Madame Du Barry, vivida pela própria Maïwenn.
Atração é o que não falta para a espera (nas salas de projeção) do Bom Velhinho, mas se o seu rolê é ficar em casa e se aboletar no streaming, zapeie a Paramount atrás de "Querido Papai Noel" ("Dear Santa"), de Bobby Farrelly, com Jack Black no papel de um Diabão que, em pleno fim de ano, sobe à Terra para ajudar um garotinho a realizar seus desejos, numa (per)versão de São Nicolau. É um desempenho hilário.