Por: Leandra Lima - PETR

Geração Z se sente mais ansiosa por conta da era digital

Para manter um equilíbrio é preciso cultivar hábitos e hobbies fora do mundo virtual, para amenizar os impactos | Foto: Antônio Cruz/ Agência Brasil

Por Leandra Lima

Desde de seu surgimento em 1969 a internet é objeto de fascinação e estudo, os efeitos que a ferramenta pode causar na sociedade são pautas de pesquisa ao redor do mundo. Atualmente esse assunto veio à tona com mais latência, por conta dos impactos negativos que a era digital e tecnológica vem provocando na saúde mental dos jovens, principalmente do grupo específico, denominado 'Geração Z', que são basicamente as pessoas que nasceram entre 1995 e 2010. Essa geração é conhecida por ser "nativos digitais" por ter uma capacidade mais fácil de se manterem conectados e adeptos às novidades do setor. Apesar da fama, toda essa hiper conectividade pode causar danos, uma pesquisa promovida pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Oswaldo Cruz), aponta que por conta desses efeitos os 'natos digitais' estão mais suscetíveis aos efeitos do estresse, podendo apresentar maiores taxas de ansiedade entre eles.

A hiper conectividade, o acelerar das coisas, as mídias sociais que mudam de cara em frações de segundo e a cultura do imediatismo digital que promove a ideia de que tudo tem que ser feito agora, já que o tempo não espera, faz com que a geração z se sinta enclausurada, consequentemente, mas predispostos a desenvolverem transtornos mentais. Para entender como os fatos descritos refletem em cada um, a reportagem entrevistou duas jovens com 7 anos de diferença de idade.

A primeira é a recém formada em direito, a advogada Mariana Lima, de 25 anos. Ela relata que um dos lados negativos da era digital é a questão do vício. "Todo mundo fica viciado na rede social. Quer dizer, ela libera a dopamina pela quantidade de informações dispostas ali. Ficamos imersos nesse mundo, e quando a gente vê, já se passaram horas e horas no ambiente virtual. Outra coisa negativa também é a questão da comparação. Muita gente se compara com o que vê na internet. Quantas informações conseguimos enxergar ali. Quais situações estão acontecendo e tudo mais. Isso é muito prejudicial, pois acabamos querendo ter um corpo igual, uma vida igual, aos que mostram online. Sendo que não é uma realidade muito parecida com o que a gente tem atualmente. Além disso, a busca pela perfeição também é maléfica. Porque ali todo mundo mostra a vida perfeita, nunca mostra o perrengue, sempre mostra as coisas positivas, que não condiz com a realidade", disse.

Mariana continua enfatizando que os efeitos disso, acabam gerando ansiedade. "Além disso, me gera a questão de comparação também, porque principalmente eu treino, então, me pego comparando meu corpo com outras meninas com uma realidade totalmente diferente da minha. Elas vivem daquilo, fazem tratamentos estéticos que no momento não tenho condições de pagar. Então, acaba aguçando a minha ansiedade, tem pessoas que eu deixei de seguir por conta disso, sabe? Porque acabava ficando triste por não alcançar aquele objetivo que elas estavam tendo", expressou.

Seguindo a mesma linha, a segunda entrevistada, a jovem estudante de 19 anos, Amanda Ávila, expressa seus consentimentos frente a era que está inserida. "É uma mistura de sentimentos. A gente pode usar as mídias sociais a nosso favor, pois podemos ter acesso a várias informações, porém tem o lado obscuro, onde muitas pessoas usam para falar mal das outras, tem também a questão da comparação que é muito difícil. Eu por exemplo, ultimamente estou fazendo muito isso, tipo eu quero medicina e muitas vezes aparece vídeo de pessoas que já foram aprovadas ou outras que mostram a sua rotina de estudos e eu fico comparando com a minha e as vezes acho que estou fazendo tudo errado. Nisso fico ansiosa e acho que não vou conseguir", relatou.

Além da similaridade nas narrativas, as duas integrantes da geração Z, registram as mesmas opiniões relacionadas à cultura do imediatismo. Para Mariana a ideia gera uma ansiedade social que começou a mudar o padrão das coisas simples, como assistir um filme completo. "A questão de ser tudo imediato, acaba gerando uma sensação de que se não estiver produzindo algo você está atrasado. Acho que as pessoas estão com a paciência cada vez mais escassa, dá para notar pelo os produtos que consumimos, como os vídeos curtos, os shorts. Tudo está bem pequenininho, até no máximo um minuto, por exemplo. Percebo que hoje em dia, tem gente que não consegue ir ao cinema assistir um filme de três horas, porque é muito longo, e na visão deles não é possível ficar ali assistindo e aproveitar, por essa questão de ser tudo muito rápido", destacou.

Amanda completa afirmando que percebe a mudança na pele. "Tem muitos estudos, até a minha professora falou no ano retrasado, que hoje em dia os jovens não têm mais paciência de ver um vídeo sem ser na velocidade 1.5x. E é uma coisa que eu percebi, acontece o mesmo com os áudios aqui no WhatsApp, por exemplo, os meus ficam todos no 1.5x. Também estou assistindo as aulas no cursinho, ultimamente, nessa vibe, tipo, começo com 1.x mas quando vejo, já chego no final da aula na velocidade 1.5x. Sinto que a gente não tem mais aquela capacidade de esperar o tempo certo de ver o vídeo. Um vídeo de 20 minutos, não vamos ficar ali parados. Me dá ansiedade se vejo que o professor tá falando lento. Não consigo, entendeu?", explicou.

A psicóloga petropolitana Yasmim da Silva, destaca que esse fenômeno é percebido em escala mundial. "Sem dúvidas, vivemos em um mundo imediatista em que estamos constantemente conectados, seja nos comunicando ou consumindo conteúdo das redes, com isso recebemos uma sobrecarga de informações. As redes sociais são pensadas visando a gratificação imediata, vemos isso quando cada vez os vídeos são mais curtos e as pessoas cada dia mais estão impacientes para assistir um vídeo que demora mais que alguns segundos. Quanto mais usamos as redes mais recompensas dopaminérgicas recebemos, levando a dependência, assim a necessidade crescente de estar conectado pode gerar quadros ansiosos. Outros elementos, como a disseminação de notícias falsas e a comparação com outros, podem aumentar a ansiedade e desencadear transtornos mentais ou episódios de pânico", disse.

A profissional ressalta que essas ações podem prejudicar o desempenho individual de cada pessoa em diversas esferas, sendo na área acadêmica ou no convívio social. "Para manter um equilíbrio é preciso cultivar hábitos e hobbies fora do mundo virtual, para amenizar os impactos que a hiper conectividade causa", expressou.