Por: Leandra Lima

Produção aborda saúde mental no processo criativo

Artistas enfrentam desafios entre inspiração e produção | Foto: Luísa Gotelip

A arte é vista como um instrumento que possibilita o desenvolvimento social, englobando, conhecimento, crenças e costumes. Ela é importante para a formação do senso crítico dos indivíduos, além disso atua como um agente benéfico para a saúde mental. Muitas pessoas se conectam com a arte e com seus autores, se identificando com as características do criador e do produto final, como a relação do fã e o músico. Ser fonte de inspiração para o mundo é o trabalho da arte em todas as esferas, e talvez seja aí que mora o perigo, pois os fabricantes tem que está sempre apresentando algo extraordinário e belo aos olhos de quem vê, com isso esse ciclo se torna um peso para muitos artistas. Inseguranças, dúvidas e incertezas profissionais que permeiam esse mundo, é o que o curta-metragem petropolitano "O Que Fiz de Mim" aborda na sua composição, ressaltando que a arte tem sim o poder de cura. O projeto é relevante para a sociedade, trazendo á tona um tema sensível como o suicídio, e para os artistas que enfrentam cobranças sociais, pressões para o sucesso e questões de saúde mental.

O filme conta a história da jovem Tex, uma pintora, que se isola em casa e lida com pensamentos suicidas enquanto também busca inspiração para realizar sua primeira exposição. " Tex é uma artista multifacetada em diversas áreas da arte, ela pinta, atua, escreve, dança, é musicista, e vive diariamente nesse universo de cobranças, e a gente como artista sabe que não é sempre que vem a inspiração, mas temos o nosso prazo de entrega, assim também acontece com ela. No curta abordamos também os transtornos mentais como a depressão e a ansiedade de uma artista que está em processo de busca constante pela inspiração e nunca que chega a ela e o prazo vai expirando para entrega de um trabalho. A partir disso, vem todo esse debate que envolve os artistas, principalmente os petropolitanos, aqueles que estão em busca do processo de inspiração, e também aqueles artistas que lutam diariamente com a depressão, ansiedade", revelou a diretora e atriz do docudrama, Ester Gastaldo.

O diretor de produção geral e executiva, Vinil Gabriel, explica que o projeto aborda questões de saúde mental e o poder da arte como uma das maneiras de enfrentá-lo. "A obra também convida o público a refletir sobre a confrontação do absurdo da existência por meio da criação artística. 'O Que Fiz de Mim' é uma jornada que celebra a arte, resiliência e a busca pelo significado da vida", disse.

Ester reforça que na trama a personagem lida com pensamentos suicidas devido a sua condição. "Nós entendemos que o suicídio é a busca desesperada pelo controle final sobre a própria existência. É uma recusa em aceitar o absurdo da vida. No entanto, a verdadeira revolta contra o absurdo não está em tirar a própria vida, mas sim, em continuar a viver com toda a intensidade", explicou.

Processo

A atriz e diretora da obra cinematográfica, fala que o processo da construção está sendo intenso. " É intenso mas não tão difícil, porque eu como atriz já passei por esse estado de depressão e ter que entregar o material artístico sem ter outra escolha. Ter tido essa experiência em vida, me ajuda muito a construir a personagem. Minha preparadora de elenco também está dando toda a ajuda e suporte que eu preciso nesse momento pra experimentar e imergir nesse universo ficcional da história. Inclusive é um processo criativo autoral de todos os envolvidos, eu como atriz estou no meu processo criativo com a pintura, o Kikdary que é o nosso coreógrafo também está no processo criativo dele, o nosso músico também, então é um desafio que estamos fazendo sair do zero e ver isso tomando forma é muito legal", relatou.

O trabalho é composto por 13 profissionais e tem um grupo majoritariamente formado por mulheres, pessoas lgbt, integrante com deficiência visual e uma atriz de 83 anos. O curta tem como um dos principais objetivos aproximar as pessoas da arte. "Queremos que todos tenham acesso, então pensamos em vários aspectos para promover acessibilidade e inclusão. Apresentaremos a performance ao público no Centro de Cultura Raul de Leoni gratuitamente", reforça, Ester.