Por: Gabriel Rattes

Empresários de Petrópolis são presos em esquema de lavagem de dinheiro

Urban que fica na Estrada de Itaipava é um dos estabelecimentos dos envolvidos | Foto: Divulgação/@urban_itaipava

Por Gabriel Rattes

Na manhã desta quinta-feira (13), agentes da Polícia Civil prenderam quatro empresários de Petrópolis envolvidos em uma organização criminosa voltada para a prática de lavagem de dinheiro e fraudes bancárias em grande escala. A ação faz parte da operação Shell Company, do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (GAECO/MPRJ) e a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE). Além dos quatro mandados de prisão, também foram expedidos dez mandados de busca e apreensão pelo Juízo da 1ª Vara Especializada em Organizações Criminosas. Todos cumpridos em Petrópolis, nas regiões de Itaipava, Corrêas e Nogueira e no Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca.

De acordo com a investigação, os crimes aconteceram entre os anos de 2019 e 2020, e geraram um prejuízo de mais de R$ 8 milhões para a agência do Banco Santander localizada na Avenida Koeler, no centro de Petrópolis. Jeferson de Aguiar Leal (empresário), João Vitor Hibner de Figueiredo (empresário), Leonardo de Oliveira Tonelli (ex-gerente bancário) e Osiris Alves de Luca Filho (ex-gerente bancário) foram presos na manhã de ontem (13). E Fernanda Rebello (esposa de Jeferson) e Rhamonna Pipa Costa Sabbadim (esposa de João Vitor) também estão sendo investigadas no esquema.

A investigação aponta que o grupo constituiu ao menos 12 empresas fictícias, utilizando-se de documentação falsa, enquanto os ex-gerentes da agência Leonardo de Oliveira Tonelli e Osiris Alves de Luca Filho foram os responsáveis por facilitar os empréstimos. De acordo com o GAECO/MPRJ e Draco-IE, durante os anos de 2020 e 2022 os denunciados movimentaram R$ 479.641.117,30 milhões. A análise do fluxo financeiro indica que, além do banco Santander, outras instituições financeiras também foram alvo do mesmo grupo.

Lavagem de dinheiro

O Correio da Manhã teve acesso a parte da investigação do GAECO/MPRJ. Nele, mostra que os indiciados abriram contas bancárias em nome de pessoas jurídicas que tinham como sócios "laranjas", e após a movimentação artificial de valores entre as contas fictícias (transferência de valores de uma conta para outra sucessivamente) elevando o score de crédito, foram concedidos pelos gerentes bancários, Leonardo de Oliveira e Osiris Alves, créditos diversos, como: cheque especial; duplicatas; empréstimos pessoais; financiamento de veículos; entre outros, em altos valores. Os valores creditados eram imediatamente transferidos para as contas bancárias de pessoas jurídicas e físicas (contas de passagem) e, em seguida, movidos para as contas dos destinatários finais.

Com o objetivo de lavar o dinheiro obtido nos golpes, Leonardo Tonelli e Osiris Alves adquiriram cotas societárias de valioso empreendimento, o WLO Comercio de Alimentos e Bebidas LTDA, restaurante conhecido pelo nome Chateaux Bistrot, localizado no bairro de Itaipava, em Petrópolis. Com a mesma finalidade, Rhamonna Sabbadim (esposa de João Vitor), além de criar empresas fictícias, se titularizou como sócia-administradora na empresa Urban Centro Esportivo LTDA, também localizada em Itaipava. Que de acordo com o documento do MPRJ, em 2022 transacionou valores com empresas criadas para lavar capitais e recebendo cifras milionárias sem origem justificada, como se constata pelo recebimento de R$ 1.289.646,03 do Banco Bradesco.

Padrão nos golpes

Notou-se um padrão nas informações coletadas pelos investigadores. A maioria dos "laranjas" possuíam em média renda menores que um salário mínimo e viviam em lugares extremamente pobres. "[...] demonstrando o uso destes como fantoches, seja de maneira consciente, emprestando o nome para o cometimento de fraudes, seja de maneira viciada, sem o respectivo consentimento".

Também foi observado na investigação, que muitas das empresas já existiam e estavam inativas, a partir daí eram realizadas alterações para incluir o nome dos "laranjas" e, quase que imediatamente, abertas as contas bancárias. "A manobra faz prova robusta de que os quadros societários foram alterados com a finalidade única e precípua de aplicar golpes".

Outro fator que traz fortes evidências, segundo a investigação, diz respeito à utilização dos mesmos endereços e/ou telefones na abertura de contas de oito empresas: Rodomaster Indústria e Comércio; Caminho Livre Transporte e Logística; Andromeda Transporte e Logística; CONSTRUMAIS Material De Construção; Mega Transportes e Logística Eireli; High Speed Transporte e Logística; Agronegócio Dois Irmãos Eireli; E A C L Agrocomercial e Prestação De Serviços.

A investigação aponta que todo o esquema só foi possível com a participação dos então gerentes bancários. "A façanha só foi possível graças a cooptação dos então gerentes bancários responsáveis por conceder créditos vultuosos à revelia das regras básicas impostas pelo setor de compliance. Os funcionários aliciados passaram a executar operações não permitidas ou, ao contrário, deixaram de cumprir procedimentos de segurança determinados pela instituição e/ou pela lei, como, por exemplo, identificar o depositante, o que justifica um enorme percentual de valores que não tiveram origem e destino identificados", explica o documento.

A reportagem tentou contato com a defesa dos acusados e aguarda retorno.