Por: Leandra Lima

'Jongo' dança afro é símbolo de resistência negra no país

Arte integra percussão de tambores, dança e canto | Foto: Reprodução/ Monica Valverde

A cultura afro-brasileira é rica e possui marcas únicas em cada instância de suas mais diversas formas. A manifestação tem raízes africanas, uma importante potência para manter viva a história de um povo sábio que soube lutar, e resguardar os ensinamentos da terra mãe em meio ao sofrimento da escravidão, reforçando que a história deles não só se resumia nesse fato. Uma arte que se encaixa nesse perfil é o "Jongo", uma dança de origem bantu. A dança integra percussão de tambores, dança e canto, no Brasil no período da escravidão, os negros escravizados a praticavam dentro das senzalas como forma de resistência à "casa grande", principalmente das fazendas de café do Vale do Paraíba.

O Jongo também é conhecido como Caxambu ou Tambu, nele os negros utilizavam linguagens próprias, conhecida como pontos, para confundir os fazendeiros e através disso combinavam fuga do cativeiro e festas de tambor. "Tava durumindo cangoma me chamou. Tava durumindo cangoma me chamou. Disse levante povo cativeiro já acabou", trecho de um ponto de jongo, intitulado 'Cangoma Me Chamou', de Clementina de Jesus.

A manifestação cultural representa a região sudeste, em cada território se canta, toca e dança de forma diferente. Em Petrópolis, ela também é bem presente, praticantes buscam resguardar e preservar a história da dança. Recentemente a fundadora do grupo Afro Serra, movimento de resistência da cultura negra, Mônica Valverde, protocolou junto ao gabinete da Coletiva Feminista, um oficio solicitando a criação do Dia Municipal do Jongo e a declaração de reconhecimento como Patrimônio Imaterial Cultural de Petrópolis.

A comemoração seria marcada para o dia 16 de outubro, como forma de homenagem à data de aniversário de nascimento do petropolitano Jamil Sidney Lopes Neves, figura conhecida no meio cultural, era conhecido como "Gogó de Ouro". Jamil era jongueiro e atuava no Afro-Serra.

Símbolo de resistência

Para Monica, é importante esse reconhecimento, pois a história e cultura do povo preto buscou ser apagada pelas elites em todo o território brasileiro, e não foi diferente em Petrópolis. "No passado, o território que hoje conhecemos como petropolitano era sediado por diversas fazendas, que se utilizavam da mão de obra africana escravizada nas lavouras. Dessa forma, o canto e a dança desses ancestrais foram passados entre as gerações que aqui habitavam, mas, sofreram forte apagamento no final do século XIX e no século XX", explicou.

Valverde continua destacando que vários grupos de capoeira da cidade realizam o jongo em seus territórios, porém, a prática não tem visibilidade. "Ao som de tambores e com letras que falam do dia a dia das pessoas e comunidades, o jongo serviu como elemento de resistência, sendo hoje uma tradição cultural presente em toda a região Sudeste. Se faz urgente e necessário resgatar e multiplicar os saberes dos nossos ancestrais para que a cultura Afro-brasileira não desapareça", ressaltou.

A fundadora do Afro Serra enfatiza ainda que a importância do Jongo na luta contra o racismo é imensurável. Pois retrata não somente o sofrimento de um povo, mas, como o mesmo conseguiu se comunicar e se libertar.